divórcio ou casamento eterno?...

2007-10-13

Fátima

Há várias maneiras de louvar a Deus.
Há os que gostam de o louvar destacando a sua transcendência, que nenhuma obra humana é capaz de visibilizar de modo convincente. Para estes nada é suficientemente grandioso, nem nenhuma obra é suficientemente digna por muito custosa que seja. Normamente a esta obra grandiosa associa-se a beleza da arte: a beleza é também um modo de descrever Deus: caeli ennarent gloriam Dei (as maravilhas do céu ( e da terra) narram a glória de Deus).
Há os que preferem louvá-lo na "aniquilação" de um Deus que quis não só assumir a condição humana, mas se identificou com os vencidos da história, sobretudo na cruz, onde são crucificadas todas as vítimas das violências naturais, mas sobretudo humanas.
Há os que gostam de olhar Deus como alguém com quem se pode negociar os acontecimentos da vida pessoal.
Há os que renegam todos os bens materiais e se afastam para o deserto ou para o silêncio da clausura.
Os camnhos para Deus são múltiplos e variados. E até acontece que alguns podem tornar-se pedra de escândalo para outros. Cada um tem a sua caminhada "única e insubstituível" para chegar até Deus. Também as comunidades têm os seus diversificados esquemas de testemunho e evangelização. E cada época histórica exige formas características para tornar Deus visível e presente na história. Por isso, em cada tempo, cada comunidade é chamada a discernir quais os melhores caminhos para a situação histórica concreta que vive.
A Igreja da Santíssima Trindade em Fátima pode ter várias leituras e não é legítimo absolutizar qualquer delas.
Pode ser olhada como uma obra grandiosa mas adequada a manifestar a grandeza de Deus e os 80 milhões de euros são o preço a pagar por essa manifestação. Estes servir-se-ão das palavras de Jesus "Pobres sempre os tereis convosco", no episódio em casa de Simão onde uma mulher gasta uma fortuna para ungir os pés de Jesus com um óleo caríssimo. E manda recordar este episósio.
Mas também há quem considere estes milhões todos como um "desperdício" incompreensível num tempo em que tanta gente passa fome. Considerando esta ostentação como imprópria para louvar um Deus que quis ser pobre para nos salvar apelam para Jesus que fala da simplicidade e a sobriedade de vida mas sobretudo que apresenta como critérios insubstituíveis para alcançar o Reino de Deus não o templo ou a oração, mas o acolhimento amoroso do pobre que tem fome e sede, que está doente ou preso, que é vítima da injustiça, ou mesmo argumentar com o Magnificat, esse cântico revolucionário de Maria que recorda o nosso Deus que "enche de bens os famintos e aos ricos despede de mãos vazias".
Outros olharão como uma manifestação cultural, uma beleza arquitectónica, como uma homenagem da cultura a um Deus que é Senhor da história. Também estes poderão olhar para Jesus e ouvi-lo falar da beleza dos lírios do campo ou das construções humanas.
Esta é a liberdade que o nosso Deus nos dá: cada um de nós pode escolher a sua imagem, porque não há nenhuma imagem absoluta de Deus que os homens possam alcançar.
E esta liberdade, dom de Deus, é um risco sério para o projecto de Deus: é que embora todos os cristãos acreditem em Jesus Cristo, há muitos Jesus Cristos a separar e a lacerar a unidade da nossa fé. Mas o nosso Deus é um Deus que sabia os riscos que corria e quis assumi-lo ao criar o ser humano com capacidade de decisão. Porque o nosso Deus não quer marionetes. Quer pessoas.

Talvez ajude a frase do Concílio que escolhi para hoje:
De pouco servirão as cerimónias, embora belas, bem como as associações, embora florescentes, se não se ordenarem a educar os homens para conseguir a maturidade cristã (Presbyterorum Ordinis, 6)

1 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Zé Dias: Gostei muito da tua polifacetada observação do acontecimento... Nem podia deixar de ser, habituado que estás a analisar as coisas pelas várias faces do prisma. E esta imagem apresenta-se com muitas faces que devem ser analisadas. Mas para que se cumpra aquela frase do P.O. nº6 que perspicazmente nos recordas, muito temos todos de trabalhar, e creio que nunca faremos trabalho que chegue.
Um abraço do FF.

14/10/07 09:36

 

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