Santos e pecadores
Foi conhecida, há dois ou três dias, a condenação do antigo capelão argentino cúmplice da ditadura militar do general Videla.
Sabe-se do doloroso que foi para a Igreja argentina esses tempos difíceis quando nem sempre foi fácil fazer o discernimento nem a fideladidade ao espírito do Evangelho esteve suficientemente presente. Sabe-se também do esforço, e até da exigência, feito por João Paulo II para que a Igreja argentina pedisse perdão pública pelo seu comportamento ou de alguns dos seus "filhos".
Se recordo este episódio doloroso é porque ele contém várias lições.
Nenhuma instituição humana, mesmo religiosa, está isenta do pecado, até porque o pecado marca toda a realidade humana. Ninguém está isento de pecado; por isso, devemos ter cuidado antes de "atirar a primeira pedra"
Situações desta não põem em causa a dignidade e a necessidade de instituições cuja finalidade última é testemunhar o amor de Deus: "não é uma andorinha que faz a primavera". A Igreja, mesmo com estes episódios, continua a ser indispensável para a construção de um mundo mais à medida da pessoa, de cada pessoa que, seja homem ou mulher, foi criada "à imagem de Deus".
Estas situações são sempre tempos oportunos para aprendermos a viver com humildade e a consciência de que somos pecadores, mas também com a consciência de que tais limitações não devem impedirnos de continuar a nossa missão; são antes um contínuo desafio à nossa coerência de fé-vida.
Finalmente esta realidade ajuda-nos a ser mais comprensivos com as falhas dos outros e a sermos menos auto-suficientes e moralistas na sua avaliação.
Para que não esqueçamos o Concílio, aí deixo a minha citação para hoje:
Enquanto Cristo «santo, inocente, imaculado», não conheceu o pecado, mas veio apenas expiar os pecados do povo, a Igreja, contendo pecadores no seu próprio seio, simultaneamente santa e sempre necessitada de purificação, exercita continuamente a penitência e a renovação. A Igreja «prossegue a sua peregrinação no meio das perseguições do mundo e das consolações de Deus», anunciando a cruz e a morte do Senhor até que Ele venha. Mas é robustecida pela força do Senhor ressuscitado, de modo a vencer, pela paciência e pela caridade, as suas aflições e dificuldades tanto internas como externas e a revelar, velada mas fielmente, o seu mistério, até que por fim se manifeste em plena luz (Constituição sobre a Igreja Lumen Gentium, 8).
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