Cristo Rei
Com a Festa de “Cristo Rei” termina o ano litúrgico.
Não foi por acaso que se escolheu esta referência a Cristo Rei para culminar o fim do ano no calendário da Igreja. Efectivamente para os cristãos Cristo é o Senhor da história e quem lhe dá o seu sentido último.
Contudo, a palavra rei merece algum cuidado na sua interpretação. O reinado de Cristo não é como os impérios e reinados deste mundo. Aliás foi o próprio Jesus que nos acautelou: “Sabeis que os que são reconhecidos por chefes das nações as tratam como senhores e os seus grandes exercem poder sobre elas. Mas entre vós não é assim; pelo contrário, o que entre vós quiser ser grande seja vosso servo e quem quiser entre vós ser o primeiro seja submisso a todos” (Mc 10,42-44).
Para Cristo ser rei é ser servidor, estar ao serviço dos outros especialmente dos mais carenciados, ser o último dos servidores, ser “o servo dos servos”, não metaforicamente mas efectivamente.
Este dever sagrado de "servir os outros" não é um título de nobreza, mas uma responsabilidade obrigatória. De tal modo que os evangelistas fazem uma equivalência, eu firia uma identidade, entre os dois gestos que Jesus nos mandou expressamente repitir: a Eucaristia (“Fazei isto em memória de mim”: Lc 22,19) e o Lava-pés (“Dei-vos o exemplo para que, assim com Eu fiz, vós façais também”: Jo 13, 15).
O Evangelho que lemos neste domingo não deixa quaisquer dúvidas a esse respeito.
No “último dia”, todos os povos (pánta tà éthne), todas as pessoas serão julgadas a partir de um único critério: o acolhimento, a solidariedade, numa palavra, o amor que demos (ou não) aos outros.
“O Filho do Homem”, rodeado de todos os seus anjos, isto é, num julgamento com a máxima solenidade, não perguntará pelas missas a que fomos, pelas peregrinações e procissões que fizemos, pelos Terços que rezámos, mas sim pelo modo como tratámos os outros, porque “tudo o que fizestes aos mais pequeninos foi MIM que o fizestes”. O verbo usado é FAZER, não é falar ou prègar. Por isso S. João insiste: “Amemos por obras e não por palavras” (1Jo 3,16-19). É que todas as celebrações litúrgicas, indispensáveis e estruturantes da Igreja, nada valem se não forem feitas por amor, amor a Deus que só é autêntico se se fundir no amor ao próximo. Como diz Bento XVI: “Amor a Deus e a amor ao próximo fundem-se num todo: no mais pequenino encontramos o próprio Cristo e, em Jesus, encontramos Deus” (DCE 15).
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