Deus e César
Foi notícia ainda bem que passageira e, portanto, talvez não merecesse este comentário.
Um padre nos Estads Unidos proibiu ou melhor desaconselhou os fiéis que votaram em Obama de comungar, sem procederem à necessária purificação da sua alma.
Para mim, que conheço mal os Estados Unidos e, menos ainda, a sua mentalidade tão típica, não posso dizer que fiquei muito admirado.
Mas o tema merece alguma reflexão. Entre nós, pelo menos até há alguns anos atrás, ouviam-se, esporadicamente ou não tanto, afirmações semelhantes, mas... antes das eleições.
Mas este padre foi mais coerente. Esperou que o pecado fosse cometido e perante o facto exigir o que se impõe ao pecador.
Esta situação retrata a dificuldade que alguns reponsáveis eclesiais sentem em viver numa sociedade plural e democrática. Não aceitam que a Igreja católica não tenha A (única) solução, mas que é apenas mais UMA proposta, que nós cristãos acreditamos ser a mais libertadora, de solução para muitas situações difícieis. Desconhece, por completo, a afirmação proclamada pelo Concílio da justa autonomia das realidades terrestres, que têm leis próprias e valem por si mesmas e não por estarem de acordo com a interpretação da Igreja católica ou de algum dos seus representantes (cf. GS 36; AA 7). Possivelmente nunca terão lido as palavras de João Paulo II: "A Igreja não tem soluções técnicas ... não propõe sistemas ou programas económicos e políticos nem manifesta preferência por uns ou por outros, contanto que a dignidade humana seja devidamente respeitada e promovida e a ela própria seja deixado o espaço necessário para desempenhar o seu ministério no mundo" (SRS 41).
Além disso as percepções do GRANDE MISTÉRIO são múltiplas: o Deus de Jesus Cristo, para os cristãos; Alá, para os muçulmanos; Javé, para os judeus; o Não-Deus para os ateus e tantas centenas de nomes que as várias gerações e culturas lhe foram atribuindo.
E cada percepção aponta caminhos diferentes.
Só há uma condição: que cada um seja coerente com o camino que escolheu. Se o for, no final encontrar-se-á com o MISTÉRIO último e definitivo, que, por ser mistério ninguém sabe como é, quem é e, desculpem a heresia, se existe, porque a fé (há quem a defina como um salto no escuro) não é ciência.
Eu acredito que existe. Que é Senhor da história mas sempre num diálogo dialéctivo com a liberdade inviolável das pessoas. E que é Ele que dá o sentido e o rumo orientador último à minha vida.
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