CinV (10) Esquema (2)
O capítulo III (34-42) procura entrelaçar, como diz o título, “fraternidade, desenvolvimento económico e sociedade civil”.
Parte da “caridade como dom” e da “unidade do género humano, uma comunhão fraterna para além de qualquer divisão” (34). Embora a fraternidade seja uma palavra presente em toda a encíclica, aqui Bento XVI procura apontar algumas das suas exigências e condições.
Apresenta a gratuidade como expressão da fraternidade, associando-a à lógica do dom, que opõe à lógica mercantilista ou contratual: “O grande desafio que temos diante de nós… é mostrar, a nível tanto do pensamento como do comportamento, que não só não podem ser transcurados ou atenuados os princípios tradicionais da ética social, como a transparência, a honestidade e a responsabilidade, mas também que, nas relações comerciais, o princípio de gratuidade e a lógica do dom como expressão da fraternidade podem e devem encontrar lugar dentro da actividade económica normal” (36). É que “o desenvolvimento económico, social e político precisa, se quiser ser autenticamente humano, deve dar espaço ao princípio da gratuidade como expressão de fraternidade” (34).
A justiça que “diz respeito a todas as fases da actividade económica, porque esta sempre tem a ver com o homem e com as suas exigências. A angariação dos recursos, os financiamentos, a produção, o consumo e todas as outras fases do ciclo económico têm inevitavelmente implicações morais. Deste modo cada decisão económica tem consequências de carácter moral” (37).
O modo de conceber a empresa requer profundas mudanças (40):
- assumindo uma mais ampla responsabilidade social: " a gestão da empresa não pode ter em conta unicamente os interesses dos proprietários da mesma, mas deve preocupar-se também com as outras diversas categorias de sujeitos que contribuem para a vida da empresa: os trabalhadores, os clientes, os fornecedores dos vários factores de produção, a comunidade de referência";
- respondendo adequadamente à deslocalização de modo a não "atenuar no empresário o sentido da responsabilidade para com os interessados, como os trabalhadores, os fornecedores, os consumidores, o ambiente natural e a sociedade circundante mais ampla, em benefício dos accionistas, que não estão ligados a um espaço específico, gozando por isso duma extraordinária mobilidade”;
- desenvolvendo um novo espírito empresarial (41): “Nos últimos anos, notou-se o crescimento de uma classe cosmopolita de gerentes, que muitas vezes respondem só às indicações dos accionistas da empresa constituídos geralmente por fundos anónimos que estabelecem de facto as suas remunerações. Todavia, hoje, há também muitos gerentes que, através de análises clarividentes, se dão conta cada vez mais dos profundos laços que a sua empresa tem com o território ou territórios, onde opera” (40).
Para “a realização de uma nova ordem económica responsável social e à medida da pessoa” (41) exige-se:
- a existência de uma “autoridade política” mundial, “uma autoridade política repartida e activa a vários níveis. A economia integrada dos nossos dias não elimina a função dos Estados, antes obriga os governos a uma colaboração recíproca mais intensa. Razões de sabedoria e prudência sugerem que não se proclame depressa demais o fim do Estado; relativamente à solução da crise actual, a sua função parece destinada a crescer, readquirindo muitas das suas competências” (41);
- um modo diferente de olhar a globalização, que apesar de ambígua, “provem da unidade da família humana e do seu desenvolvimento no bem”: “A globalização a priori não é boa nem má. Será aquilo que as pessoas fizerem dela. Não devemos ser vítimas dela, mas protagonistas, actuando com bom senso, guiados pela caridade e a verdade. Opor-se-lhe cegamente seria uma atitude errada, fruto de preconceito, que acabaria por ignorar um processo marcado também por aspectos positivos, com o risco de perder uma grande ocasião de se inserir nas múltiplas oportunidades de desenvolvimento por ele oferecidas” (42).
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