divórcio ou casamento eterno?...

2009-09-03

CinV (18) Caridade na Verdade

Apesar de toda esta argumentação (3-4), o Papa insiste nesta ideia para evitar as deficientes interpretações que a palavra caridade sofre hoje: “Estou ciente dos desvios e esvaziamento de sentido que a caridade não cessa de enfrentar com o risco, daí resultante, de ser mal entendida, de excluí-la da vida ética e, em todo o caso, de impedir a sua correcta valorização. Nos âmbitos social, jurídico, cultural, político e económico, ou seja, nos contextos mais expostos a tal perigo, não é difícil ouvir declarar a sua irrelevância para interpretar e orientar as responsabilidades morais” (2).
E justifica o título da encíclica com um paralelismo com S. Paulo: “Daqui a necessidade de conjugar a caridade com a verdade, não só na direcção assinalada por S. Paulo da «veritas in caritate» (Ef 4, 15), mas também na direcção inversa e complementar da «caritas in veritate». A verdade há-de ser procurada, encontrada e expressa na «economia» da caridade, mas esta por sua vez há-de ser compreendida, avaliada e praticada sob a luz da verdade. Deste modo teremos não apenas prestado um serviço à caridade, iluminada pela verdade, mas também contribuído para acreditar a verdade, mostrando o seu poder de autenticação e persuasão na vida social concreta” (2).

Curiosamente o Papa não faz referência a S. João, particularmente nas suas Cartas, que se aproximam muito do seu pensamento. Somos chamados a amar não só com palavras: “Meus filhinhos, não amemos com palavras nem com a língua, mas por acções e em verdade. Nisto conhecemos que somos da verdade e tranquilizaremos os nossos corações” (1Jo 3,18). Também na curtíssima 2ª Carta, dirigida “à Senhora eleita e seus filhos”, o que simbolicamente designa uma comunidade, podemos ler: “Na verdade e no amor connosco estarão também a graça, a misericórdia e a paz que nos vêm de Deus Pai e de Jesus Cristo, o Filho do Pai” (2Jo 3); “Nisto consiste o amor: em caminharmos segundo os seus mandamentos” (2Jo 6). Portanto, viver cristãmente significa, para João, viver “na verdade e no amor”.

Além disso, Bento XVI, segundo um hábito muito típico dos Papas de fazerem a sua leitura das palavras dos seus antecessores, atribui já a Paulo VI esta afirmação de que o desenvolvimento só pode acontecer com a caridade na verdade. Por isso afirma, a partir da passagem “comovido ainda pelo nosso inesquecível encontro, em Bombaim, com os nossos irmãos não-cristãos, de novo os convidamos a trabalharem, de todo o coração e com toda a sua inteligência, para que todos os filhos dos homens possam levar uma vida digna de filhos de Deus” (PP 82), que Paulo VI “deixou-nos a recomendação de caminhar pela estrada do desenvolvimento com todo o nosso coração e com toda a nossa inteligência, ou seja, com o ardor da caridade e a sapiência da verdade” (8).
O coração e a inteligência mais não são do que a manifestação das qualidades do Deus bíblico “que é conjuntamente “Ágape” e “Logos”, Caridade e Verdade, Amor e Palavra” (3).

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