divórcio ou casamento eterno?...

2010-02-11

CinV (92) Globalização: Atitudes a superar (1) (nº 42)

A ideia central aqui desenvolvida sobre a globalização não é apenas a da sua ambiguidade ou ambivalência, característica típica de todos os processos e dinamismos humanos, mas sobretudo a necessidade de assumirmos o papel de seus orientadores e agentes e de não nos deixarmos controlar por ela.
É evidente que a globalização tem “algumas limitações estruturais, que não se hão-de negar nem absolutizar”, mas o Papa prefere destacar as nossas responsabilidades no processo bem como o carácter instrumental que a globalização necessariamente deve ter, socorrendo-se de um discurso de João Paulo II: “A priori, a globalização não é positiva nem negativa. Ela será aquilo que dela se fizer. Nenhum sistema é um fim em si mesmo, e é necessário insistir sobre o facto de que a globalização, assim como qualquer outro sistema, deve estar ao serviço da pessoa humana, da solidariedade e do bem comum” (27.Abril.2001).

Assim sendo, há várias atitudes que devemos analisar com cuidado e tomar as medidas apropriadas para lidar saudavelmente com a globalização.
A primeira que o Papa denuncia é a do fatalismo: “Notam-se às vezes atitudes fatalistas a respeito da globalização, como se as dinâmicas em acto fossem produzidas por forças impessoais anónimas e por estruturas independentes da vontade humana”.
Esta é uma atitude muito frequente e não só relativamente à globalização. É certo que muitos mecanismos que criamos para fazer o bem ou promover o desenvolvimento das pessoas ou das sociedades podem, com facilidade, tornar-se “mecanismos perversos” (SRS 16) e resvalar para “estruturas de pecado”, acabando por “se reforçar, expandir e tornar fontes de outros pecados, condicionando a conduta dos homens” (SRS 36). Esta é uma preocupação presente noutros documentos, pois o que está em jogo é a nossa condição (ou não) de protagonistas e agentes da história. Na Instrução sobre a “Liberdade cristã e a Libertação” pode ler-se: “O conjunto de das instituições e práticas (estruturas) que os homens já encontram em acção ou criam, no plano nacional ou internacional, e que orientam ou organizam a vida económica, social ou política (embora) necessárias em si, tendem, frequentemente, a fixar-se e a endurecer em mecanismos relativamente independentes da vontade humana, paralisando ou pervertendo o desenvolvimento social ou gerando a injustiça. No entanto, dependem sempre da responsabilidade do homem que pode modificá-las e não de um pretenso determinismo histórico” (LC 74).
Estas duas citações parecem não levar muito em conta os inúmeros condicionalismos em que vivemos, nos influenciam e até limitam a nossa vontade de “fazer bem”. É certo que, muitas vezes, nos desresponsabilizamos e preferimos deixar “andar as coisas”, mas, por outro lado, não podemos esquecer que o mundo e as pessoas também estão marcados pelo pecado. Já S. Paulo resumia de um modo exemplar este nosso dilema: “Sabemos, de facto, que a lei é espiritual; mas eu sou carnal, vendido como escravo ao pecado. Assim, o que realizo, não o entendo; pois não é o que quero que pratico, mas o que eu odeio é que faço. Ora, se o que eu não quero é que faço, estou de acordo com a lei, reconheço que ela é boa. Mas então já não sou eu que o realizo, mas o pecado que habita em mim. Sim, eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita coisa boa; pois o querer está ao meu alcance, mas realizar o bem, isso não. É que não é o bem que eu quero que faço, mas o mal que eu não quero, isso é que pratico” (Rom 7,14-19).

Por isso, me parece mais condizente com esta nossa realidade tão condicionante as palavras do Sínodo dos Bispos de 1971, que associa a nossa responsabilidade com a nossa impotência: “Perante esta situação do mundo hodierno, marcado pelo grande pecado da injustiça, sentimos a nossa responsabilidade nela, ao mesmo tempo que experimentamos a nossa impotência para a superar, com as nossas forças. Tal situação leva-nos a colocar-nos, com coração humilde e sincero, à escuta da Palavra de Deus, que nos mostra novos caminhos para a acção em prol da justiça no mundo” (30).

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