divórcio ou casamento eterno?...

2010-02-14

CinV (93) Globalização (2) (nº 42)

Vimos que o Papa denuncia uma mentalidade fatalista que muitos têm perante a globalização. Daqui decorrem dois perigos que geram um círculo vicioso cuja consequência é reforçar as dimensões negativas da globalização.
O primeiro consiste em nos acomodarmos, desistindo de lutar porque “não adianta nada”, porque “que posso eu fazer?”, porque “o sistema segrega ou esmaga quem se lhe opõe”. Esta atitude é especialmente perigosa porque promove uma abulia e uma sonolência, impróprias de quem tem a obrigação e a missão de ser agente, consciente e livre, da historia. Mas há também o perigo de, ao deixarmos a globalização “à solta”, ela prosseguir sem regras e critérios "humanos", instalando-se a lei da selva, a lei do mais forte ou do menos escrupuloso: “Se a globalização for lida de maneira determinista, perdem-se os critérios para a avaliar e orientar. Trata-se de uma realidade humana que pode ter, na sua fonte, várias orientações culturais, sobre as quais é preciso fazer discernimento”. Este pluralismo, que só pode ser enriquecedor, tem de ser visto no largo contexto da humanidade como uma única família: “A verdade da globalização enquanto processo e o seu critério ético fundamental provêm da unidade da família humana e do seu desenvolvimento no bem”. Como temos visto, o Papa vai recordando, de tempos a tempos, como um gong, este critério da unidade do género humano e dele vai retirando consequências várias. Também aqui aparece mais uma: “Por isso é preciso empenhar-se sem cessar por favorecer uma orientação cultural personalista e comunitária, aberta à transcendência, do processo de integração mundial”.
Esta afirmação está carregada de conteúdo, como se vê pelas palavras utilizadas:
- orientação: tem de haver um rumo orientador, um sentido claro, objectivos últimos bem definidos;
- cultural: não se trata de uma mera posição individual ou acidental, mas de um conjunto de valores estruturantes de uma comunidade;
- personalista: estes valores devem dar prioridade à pessoa; aliás o primado da pessoa é um dos grandes pilares da DSI, de tal modo que João Paulo II a coloca como o critério de toda a acção da Igreja: “Descobrir e ajudar a descobrir a dignidade inviolável de cada pessoa humana constitui uma tarefa essencial, diria mesmo em certo sentido, a tarefa central e unificadora do serviço que a Igreja, e nela os fiéis leigos, são chamados a prestar à família dos homens” (ChL 37);
- comunitária: a pessoa é um ser-para-os outros, tem uma dimensão social estruturante, que João Paulo II caracteriza assim: “O homem, na plena verdade da sua existência, do seu ser pessoal e, ao mesmo tempo, do seu ser comunitário e social — no âmbito da própria família, no âmbito de sociedades e de contextos bem diversos, no âmbito da própria nação, ou povo (e, talvez, ainda somente do clã ou da tribo), enfim no âmbito de toda a humanidade — este homem é o primeiro caminho que a Igreja deve percorrer no cumprimento da sua missão” (RH 14);
- aberto à transcendência: quando se fecha na sua imanência, a pessoa não só se considera auto-suficiente, prometeica, mas também perde a visão panorâmica, a visão de conjunto, da sua história passada, presente e futura;
- integração mundial: constituímos, como acabei de referir, uma única família, temos todos igual direito a sentarmo-nos à mesa comum, porque “a origem primeira de tudo o que é bem é o próprio acto de Deus que criou a terra e o homem, e ao homem deu a terra para que a domine com o seu trabalho e goze dos seus frutos". Mas "Deus deu a terra a todo o género humano, para que ela sustente todos os seus membros sem excluir nem privilegiar ninguém” (CA 31).

0 Comentários:

Enviar um comentário

<< Home