divórcio ou casamento eterno?...

2010-03-12

PEC

Os que não são sabidos nestas coisas não tirarão certamente nenhumas conclusões “teóricas” sobre o que significa este Pacto de Estabilidade e Crescimento. Só começarão a percebê-lo quando os efeitos se fizerem sentir nos seus bolsos. Infelizmente, só funcionamos em termos de bolsos…
Os sabidos, no fundo, sabem quase tanto como nós, porque trabalham num campo, com fortes afinidades com a futurologia, só que, neste caso, chamam-lhe “previsões”, cuja concretização logo se verá se bate certo ou não. De qualquer modo, prefiro os que correm o risco de nos enganarem com o optimismo “realista” aos que correm o risco de nos enganarem com o pessimismo desalentador. O importante seria fazer perceber a todos que vivemos realmente em crise. Mas quem vê as bichas monumentais de carros particulares que sufocam as nossas cidades percebe facilmente que ou somos inconscientes ou não somos pobres e vamo-nos aguentando bem assim. Quem sabe realmente da crise são os “profissionais da crise”, os que passam a vida nos limiares da pobreza e da exclusão. Há algumas excepções: por exemplo os pobrezinhos dos pilotos da TAP, para quem certamente teremos de fazer um peditório nacional para que não morram à míngua… de solidariedade.

Mas não é desse PEC que quero falar mas sim de um outro PEC: Procuremos Encontrar Consensos, que nos mobilize nas grandes causas deste país e nos ajudem a sair da situação em que nos encontramos. Os que têm a barriguinha cheia andam preocupadíssimos com a liberdade de expressão, que concluíram agora que afinal existe; o que não existe é a liberdade de imprensa. Como se a nossa democracia só tivesse esse direito em causa. E se fôssemos todos começar pelos problemas que afectam já mais de 2 milhões de portugueses, pessoas como nós, mas sem pão, habitação, educação e outras condições humanas básicas. E se nos mobilizássemos todos para criar uma mentalidade geral de cidadania responsável que exigisse do governo e da oposição um verdadeiro sentido de Estado. E se nos juntássemos todos para exigir das chefias intermédias criatividade e dedicação responsável aos seus funcionários e departamentos de modo a servirem, o melhor possível, todos os cidadãos. E se nos juntássemos todos contra a nomeação dos boys pelo Governo, mas também pela Opus Dei, pela Maçonaria e até por Partidos e exigíssemos os mais competentes. E se nos juntássemos para insistir ou “pedir por amor de Deus” aos sabedores de gestão e de planificação, que têm provas dadas em muitas empresas de sucesso, que em vez de dar tantos palpites assumissem, por uns tempos, “o serviço comunitário” ou criassem grupos para fazer propostas realistas que debatessem com o Governo, como sucedeu em alguns países em reconstrução, como o Japão há décadas atrás. E se nos uníssemos contra a corrupção, a começar pelas nossas “corrupçõezinhas” caseiras e continuássemos o trajecto por aí acima. E se nos juntássemos não para exigir mais regalias individuais ou tribais, mas para interiorizar que estamos todos num barco em dificuldades que precisa de todos a puxarem para o mesmo lado. E se nos considerássemos como irmãos ou, pelo menos como cidadãos e não nos guerreássemos como inimigos a abater, numa autofagia vergonhosa, que até acontece dentro dos próprios partidos. E se nos preocupássemos seriamente com a construção deste país, para que todos tenham lugar para dar o seu contributo “único e irrepetível”, como é seu dever, mas também tenham garantido o direito à distribuição justa dos bens e recursos, de modo a todos termos uma qualidade de vida digna.

É este PEC que eu gostaria que nos mobilizasse a todos. E tenho a certeza que daria resultados muito mais eficazes e substanciais que o PEC do Governo.
Mas isto é um “sonho de uma noite de Verão”. E cada um de nós continuará a olhar para o seu umbigo, num espectáculo verdadeiramente enternecedor

Termino, informando algum potencial interessado, que resolvi começar um outro blog sobre as maravilhas deste nosso Universo: não as sete maravilhas, que são votadas democraticamente pela Net; mas maravilhas outras que passam para lá da Terra e que estão ligadas às nossas raízes primeiras: à “origem” do Universo, ao aparecimento da vida e à emergência da consciência. Maravilhas que, espero, não nos alienem dos problema reais, mas nos ajudem a perceber que temos uma longa história, de muitos milhões de anos, feita de muitas crises e vitórias, e que se aqui chegamos foi porque "nós" (Universo) lutámos muito. É bom que tenhamos consciência dessa história e a deixemos habitável para as gerações futuras. Como disse Bento XVI, na Mensagem para o Dia Mundial da paz deste ano: "A crise ecológica manifesta a urgência de uma solidariedade que se projecte no espaço e no tempo" (8).

Chama-se “Ventos do Universo”.

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