divórcio ou casamento eterno?...

2011-03-24

Somos um país de patuscos, mas quem se lixa é ...

Neste dia em que todos já sabíamos que ia cair o Governo, já não fará sentido a pergunta que fiz no meu artigo desta semana. De qualquer maneira, aqui a deixo na mesma. Como é dita do fundo do poço ninguém a deve ouviiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiir:  "Políticos e partidos passam, os portugueses ficam! Mas quem se interessa pelos portugueses?".
Mas aí deixo o artigo. Pode ser uma pequena ajudinha para os tempos que aí vêm. O meu grande receio é que daqui a três meses iremos ter lá a generalidade dos políticos a-cívicos que agora lá estão. Mas pode ser que com este tratamento de choque este monstro adormecido que é a sociedade civil acorde, dê um murro na mesa e exija uma nova ordem.


ESFORÇA-TE MAIS
 Num recente artigo, no Expresso, Avillez Figueiredo conta a história da Avis (aluguer de automóveis) e o modo como o gestor R. Towsend a transformou numa empresa gigante. Quando chegou, a Avis tinha apenas 11% do mercado, dominado pela Hertz. Reuniu os trabalhadores para estudar a situação e, ao concluir que a empresa não era pior que a concorrente, perguntou a si próprio: “Se a oferta é igual por que estamos tão atrás?”. E logo respondeu: “Porque não acreditamos em nós. Não acreditamos que podemos chegar lá à frente”. Então criou uma equipa de pessoas criativas que fizesse passar uma mensagem nova para dentro da empresa mas também para fora, para o mercado. O slogan inventado dizia apenas isto: “Faz o que está certo, procura soluções inovadoras, esforça-te mais”.
Ao ler o artigo dei-me conta de como seria “simples” chegarmo-nos mais à frente. E pensei no país mas também na Igreja católica: ambos em sérias dificuldades, ambos com pouca margem de manobra, como a situação de partida da Avis. O que o novo gestor fez foi estimular as pessoas, puxar pela sua criatividade e pô-las a trabalhar a sério. Não com um chicote doloroso, mas com o chicote interior do estímulo, da auto-estima, da consciência de que, se quisessem, podiam ser mais e melhor.
Ao olhamos o nosso Pais, o que se nota é a falta desse chicote interior: as pessoas parecem desinteressadas em fazê-lo andar para a frente e para cima, incapazes de contribuir para a solução, acomodadas na situação desagradável de últimos da lista e dolorosa porque isso nos dói na pele e no nível de vida. Esgotamo-nos a culpar os outros, discutimos o “sexo dos anjos”, enquanto o barco se vai afundando cada vez a maior velocidade.
                Da receita de Towsend fica quase nada. Muitos pensarão que estão a cumprir o “Faz o que está certo”. Mas o “certo” é muito subjectivo, o que torna fácil para cada um pensar que o faz. Contudo o que está certo é contribuir de modo positivo para o bem comum e não para o interesse individual ou grupal. “Procura soluções inovadoras” é onde a grande maioria falha: os muito poucos que o fazem descobrem novos nichos de actividade, inventam formas não experimentadas, põem-nas em prática e têm sucesso. Há, no nosso país, muitas experiências pequenas ou um pouco maiores de pessoas que arriscam e vencem. A maioria dos licenciados o que sabe é lamentar-se porque não lhes dão a papinha feita e não foram educados para o risco e a inovação nem em casa nem na escola. E agora só sabem que estão “à rasca” e sem saídas. Os mais despachados rumam ao estrangeiro e aí, com outras condições é certo, muitos deles singram bem na vida. Depois vem o “Esforça-te mais”. Pois! Aí temos outra grande dificuldade. Esforçar-se implica mudar de estilo de vida, assumir o sacrifício e o sofrimento para alcançar as coisas. Esquecemos que “só no dicionário é que sucesso vem antes de trabalho”. A fadiga, o esforço, a aplicação total fazem parte integrante do trabalho. Mas a maior parte parece muito mais preocupada com o dinheirinho no final do mês do que com a sua produtividade durante o mês. Há uma sensação difusa (e injusta!?) de que muitos Serviços se aguentam porque há suficientes carolas a trabalhar demasiado para “cobrir” o pouco que muitos trabalham.
                Mas tudo isto pressupõe uma mobilização nacional. Foi preciso vir um brasileiro para que todos pusessem bandeiras nas janelas e vibrassem com uma equipa de futebol. Precisamos de alguma coisa do género mas a outros níveis: um projecto global, um rumo bem definido. Tantos opinadores, tantos gestores, tantos políticos com ideias. Não será possível unirmo-nos, governos, oposições e sociedade civil, em torno das linhas gerais de um projecto mobilizador? Políticos e partidos passam, os portugueses ficam! Mas quem se interessa pelos portugueses?
                Na Igreja católica, as coisas até serão mais simples. Todos pensam que “fazem o que está certo”. O problema é que não sabem o que é o certo. Para a maior parte, o certo é o que já faziam os avós e os pais: ir à missa, mandar os filhos à catequese, dar uma esmola aos pobres, não matar, não roubar, não andar com a mulher do próximo. E, pronto, isto basta!
                Mas as duas outras receitas não constam dos manuais. Ser criativo é muito difícil, porque não há espaço nem estímulo à criatividade, pois poria em causa hábitos e rotinas consoladoras. Mas também porque é perigoso: pode alguém descobrir o que não deve e pôr em causa estruturas, ritos, perfis, já ultrapassados mas que a Tradição absolutizou, o que põe os responsáveis quase em pânico quando se fala de experiências novas. É por isso que os poucos que estariam dispostos a “esforçar-se mais” vão desanimando ou vão caindo na rotina segura e que não lhes causa problemas. E, o pior, tudo isto em nome de uma sã consciência cristã!
                E quanto a projectos mobilizadores, também não se vêem. O que se passa com o projecto da Conferência Episcopal “Repensar a Pastoral Juntos”? Se houvesse um dinamómetro para medir a força de vontade dos bispos, dos padres e dos leigos para este projecto, não sei se ficaria muito acima do zero. Estou certamente a ser injusto, mas apenas para os poucos que, em diáspora, sós e mal acompanhados, se estão a esforçar seriamente por amor à Igreja.
Até penso (certamente mal) que talvez não fosse por acaso que os nossos bispos nos propuseram uma caminhada sinodal e não um Sínodo. É que um Sínodo conduz a conclusões “vinculativas”; uma caminhada é como um passeio: vai quem quer e apenas até onde quer. Se chegarmos a alguma conclusão é bom; mas se não chegarmos, o Espírito vai cuidando da Igreja!

 

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