divórcio ou casamento eterno?...

2011-04-17

BARRABÁS! BARRABÁS! BARRABÁS!!!

Este domingo, que inicia a Grande Semana para os católicos, é o único em que toda a “cena” da Paixão e Morte de Jesus é contada integralmente. É, por isso, um Evangelho extremamente rico. Porque relata o primeiro dos dois grandes actos do Mistério Pascal – a Paixão e Morte –, com todas as implicações teológicas que marcam a fé cristã. Mas também porque, numa leitura sociológica, ali se descreve quase toda a humanidade, na sua variedade multifacetada de personalidades: Pedro e as suas contradições; os discípulos e a sua cobardia; as mulheres e a sua capacidade de sofrimento mas também de enfrentar os inimigos do seu Amigo; o político com a sua solução tão “política”: lavar as mãos, não olhar, não ver e não fazer nada; os criminosos com a sua fanfarronice mesmo perante a situação eminente da morte; o Cireneu com o seu medo subserviente frente às ordens da autoridade; os soldados com a sua sensação inebriante de poder porque estão armados; o centurião com o seu rasgo de discernimento representando o pequeno resto de gente lúcida no meio da crise; a multidão anónima e inconstante como “uma cana agitada pelo vento” procurando quem lhe dê “pão e circo” ou fugindo da ameaça “do pau e da cenoura”; os sacerdotes sempre presentes ausentes para mais facilmente manipularem os acontecimentos na defesa dos seus interesses.

Certamente ainda poderia apontar outros tipos humanos, mas, este ano, o que mais me chamou a atenção foi a cena do Barrabás.
Vou recordar a leitura teológica de Bento XVI no seu livro “Jesus de Nazaré”. Refere-se que o termo utilizado por S. João lestes (ληστής), “ladrão, pirata” (na tradução latina latro, “ladrão”), em vez de “ladrão” ou “salteador” poderia ter um significado muito específico na complexa situação política que então se vivia na Palestina: o de “combatente da resistência”.
Bento XVI acrescenta mais um argumento:
1) Barrabas, Bar-Abbas significa “filho do Pai”, uma manifesta expressão messiânica;
2) Mateus (na passagem que lemos este domingo) classifica-o de désmion epísemon (δέσμιον επίσημον), “preso notável” (na versão latina vinctum insignem, “preso famoso”)
Para Bento XVI isto indicaria que se tratava de um dos combatentes mais destacados da resistência, provavelmente o seu cabecilha e conclui que também Barrabás seria uma figura messiânica. Portanto, a resposta à pergunta de Pilatos implicava uma opção entre duas formas de messianismo.

Sem conhecimentos teológicos e servindo-me da ideia tradicional que temos de Barrabás como ladrão ou assaltante de estradas, eu cheguei a uma conclusão algo parecida.
Assim sendo, para mim, a pergunta de Pilatos – “Qual quereis que vos solte?” –, apresentando, de um lado, Jesus e, do outro, Barrabás, é a pergunta que hoje se nos põe nestes tempos complicados. E que se coloca em todas as épocas da história.
E, como pergunta existencial, obriga a uma resposta. Resposta que é uma opção de vida.
Preferis um estilo de vida de um ladrão, de um vigarista, de um salteador, de um assassino ou o estilo de vida de alguém que exige a prática do amor até aos próprios inimigos, que se recusa a aceitar uma organização social onde os assassinos, os corruptos, os ladrões sejam premiados e subam na vida?
É esta, pois, também a pergunta a todos os cidadãos de hoje. Que sociedade queremos:
-uma em que pontifica a lei da selva, a lei do mais forte, o compadrio, as benesses aos amigos, organizações internacionais corruptas que crucificam um país se for necessário para que os seus amigos amealhem mais uns milhões; ou
- uma sociedade onde todos vivam com o suficiente para terem uma vida digna, onde  se pratique a centralidade da pessoa, ao serviço da qual toda a lei e organização deve estar, uma sociedade da igualdade de direitos, deveres e oportunidades para todos, uma sociedade de irmãos?
Cada um tem de enfrentar esta questão, como pessoa e como membro da sociedade, e tem de optar.
O que não podemos é seguir a regra de ouro dos comodistas, dos bem instalados na vida porque souberam explorar os débeis e os fracos: não ver, não olhar, não fazer nada!
Porque a seguimos e viraáos as costas à realidade é que estamos hoje no estado em que estamos.

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