Ódio para além da morte
Ontem, segundo alguns jornais, a maioria dos deputados do PSD Madeira
abandonaram o plenário da Assembleia Legislativa da Madeira, incluindo o seu líder
de bancada, durante um voto de pesar pela morte de Miguel Portas apresentado
pelo grupo parlamentar do CDS-Madeira. Ficaram, no hemiciclo, apenas dez
deputados social-democratas que se abstiveram Todos os outros votaram a favor.
Acho estes
gestos sobretudo de simpatia e de recordação de alguém que exerceu, melhor ou
pior, a mesma profissão e procurou dedicar-se ao serviço público. Por exemplo,
também já assisti a jogos de futebol em que se
guardou um momento de silêncio pela morte de um atleta. Acho bonito sobretudo num
mundo onde muitos parecem achar que os outros são inimigos a abater e não companheiros
de jornada, na construção de um mundo mais humano.
Pessoalmente não conhecia o Miguel Portas, para lá de
saber que era eurodeputado e fundador do Bloco de Esquerda. Contaram-me que era
licenciado em Economia mas que dizia nada perceber de números. Que o que lhe interessavam
eram as pessoas. Tinha-o por alguém com ideais, pelos quais lutava
coerentemente. Segundo alguns amigos, a vida foi mazinha para com ele, pois bem
podia ter vindo um dia depois. Para quem nasceu num 1º de Maio, morrer num 25
de Abril, para ele teria um especial significado. Para ele ou para os amigos?
Concluindo: nada de especial me ligava a Miguel
Portas.
Mas o que não posso admitir, como cidadão e como
cristão (que ele não era eu, tanto quanto sei) é que colegas de ofício até
depois de morto o continuaram a odiar.
Não discuto razões, por muito legítimas que sejam. Mas
depois da morte, o que fica de cada um de nós é o termos sido irmãos de uma
única família, a família humana, para cuja construção cada um dá o contributo
que pode e sabe.
Manter um ódio para lá desse limite último já me
parece um caso do foro patológico.
Temos, como se vê, uma sociedade onde ainda há muito a
fazer para a tornar mais humana.
Que descanse em paz!
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