divórcio ou casamento eterno?...

2012-07-12

O Estrago da Nação

Como se aproxima o tempo de escrever mais uma crónica, cá ando eu à procura de um tema, a habitual angústia do não escritor que escreve um artigo regularmente. Acho que não é por falta de assunto. Talvez até seja por haver assuntos a mais. De qualquer modo, o debate sobre o Estado da Nação, do qual consegui ouvir e ver largos minutos, abriu-me uma hipótese que pode ser actual. Vou aqui fazer um primeiro esboço do artigo. O debate do macro-Estado é o habitual. Várias propostas, conforme a sensibilidade e a ideologia (se ainda há!!!) de cada força (fraca) política, se foram desenrolando num diálogo de surdos. Cada uma aparece como salvadora da pátria, numa atitude em que os espaços de sobreposição são cada vez mais reduzidos: com sobreposição não quero dizer uniformismo mas percepção de que há assuntos que têm de ser tratados com a necessária abertura mútua para que se possam resolver no interesse nacional, ou melhor no interesse dos portugueses, isto é, no interesse das pessoas e do bem comum. Ali se falou de números a mais e de pessoas a menos. E não é assim que vamos muito longe: uns preocupados em ser bons alunos em defesa da nossa credibilidade externa; outros em zurzir uma austeridade tão violenta que parece esmagar as pessoas, sobretudo as mais desprotegidas. E outros, comentadores, interrogam-se sobre o que se há-de dizer às pessoas quando perguntam: para que serve ou o que vale tanta austeridade? E mais uma pergunta se podia acrescentar: por detrás de tudo isto há algum projecto de (para) Portugal? Qual?
Como não sei responder e como não me parece que o macro-Estado da nação inclua o micro-Estado ou o Estado-intermédio, há realmente muita coisa no nosso estilo de vida pessoal e comunitário que pode ser responsável por muito do estrago que estamos, nós, os portugueses, a fazer a Portugal. 
Como funciona a nossa Administração Pública, a nível dos vários escalões intermédios? 
Assisto, impotente e incrédulo, às guerras que, por exemplo, parecem estar a acontecer com a suposta fusão dos dois Hospitais em Coimbra. Quanto nos estão a custar estas guerras surdas e de interesses particulares em detrimento de mais e melhores medicamentos hospitalares (há cada vez medicamentos mas eficazes sobretudo nas doenças mais agressivas, mas que os Hospitais não compram porque não têm dinheiro), maior estímulo aos profissionais que os faça sentirem-se tratados como pessoas e não elos de uma cadeia que tem apenas preocupações estatísticas. No fundo, em detrimento do doente e dos profissionais que querem seriamente estar ao serviço das pessoas e de um cada vez mais humano Sistema Nacional de Saúde.
Como se fazem tantas nomeações de amigos pessoais ou amigos de amigos. Por exemplo, quanto entravam (do verbo entravar!) o nosso emergir da crise as cunhas que esmagam o mérito e defendem a incompetência? Estes amigos como se fazem? Por oportunismos mútuos e expectativa na paga de favores na altura própria? Pela pertença às convenientes seitas parapolíticas e sociais, que não passam pelo voto popular? Exemplos destes todos conhecemos, mas parece que nada nem ninguém consegue parar estes estragos cívicos e morais. E aquelas borboletas-sereias que sempre andam em torno da luz do poder, agradando a todos, serpenteando-se e contorcendo-se singrando impávidos e incompetentes. 
Há pouco, pudemos ouvir Paulo Morais falar doutra modalidade de corrupção bem montada. Legalmente montada, ou não estivessem envolvidos grandes escritórios de advogados. Estes fazem as leis (para que servem os senhores dos ministérios!?), cobram depois chorudas verbas para dar pareceres (um desses escritório recebeu 7,8 milhões de euros) e ainda garantem clientes famosos e fortunosos porque conhecem muito bem os alçapões que deixaram nas leis para ajudar amigos e ganhar fortunas com os ricos criminosos.
Claro que isto mete nojo moral. Mas ainda existe consciência moral (existe demasiada "consciência tranquila"), pelo menos entre os servidores do dinheiro, cuja escravidão é mais viciante que qualquer droga? E no fundo da pirâmide estão os que procuram sobreviver. Com uma austeridade imoral, que só eles têm de suportar, com desigualdades de tratamento porque não têm amigos no Governo ou na Oposição nem nos escritórios dos advogados. E sem o dinheiro mínimo e o acesso aos serviços básicos para viver com dignidade. 
Este é o Estrago (moral) da Nação.

1 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Caro Zé Dias: foi com emoção que mesmo neste momento acabei de ler o teu testeminh "uma vida entre muitas" que saiu na Communio nº 1 deste ano. Recordei aqueles tempos em Coimbra e fui acompanhando as tuas decisões posteriores.
Gostei, sinceramente, de ler estas tuas memórias. Que a vida te sorria! Um abraço do Francisco Leal.

22/7/12 16:26

 

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