divórcio ou casamento eterno?...

2012-07-01

Qualidade de vida

Depois de um longo mês de silêncio, volto ao convívio dos meus amigos bloguistas. Embora ainda não esteja fisicamente bem de todo, já dá para ir escrevendo algumas coisas.
Nos tempos que correm, um mês é muito tempo. Parece haver mudanças ligeiras mas consistentes lá para a UE, porque finalmente alguém resolveu bater o pé. O que pode ser uma boa notícia. Por cá é que as notícias não parecem melhorar. Mas também era mais ou menos esperado. A austeridade elevada a valor supremo e destronando a centralidade e o primado da pessoa só pode conduzir a maus caminhos.
Não vou falar destas coisas complexas. Vou relatar e comentar um caso recente. 

Uma pessoa conhecida a quem fora diagnosticado uma doença complicada e fora receitado um regime de vida muito controlado, decidiu continuar a fazer a sua vida normal: a comer e a beber bem e sempre que lhe apetecia, a fumar. E o resultado foi o esperado. Passado pouco tempo acabou por morrer.
É claro para todos que, em certas condições de saúde, as limitações podem ser duras e colocar a pessoa entre duas situações: ou cumprir minimamente as regras e poder andar por cá mais uns dias com menor qualidade de vida, ou apostar no que agrada (e que muitos chamam qualidade de vida) e encurtar a vida.
Fo a prmera vez que me confrontei com esta situação de uma forma real e concreta. Teoricamente já a tenho reflectido. Mas uma coisa é o campo teórico outra é a real existência de cada um. E também aqui cada um decide o que está disposto a fazer ou até onde pode ir para alongar um pouco mais a sua estadia neste mundo.
Do que acabei de dizer a questão certamente não se coloca entre querer viver ou não. Chegados aqui todos se lembrarão da velha anedota. Um médico diz ao doente: "O senhor a partir de agora não pode fumar, nem beber, nem andar em noitadas, etc.". E o doente vira-se para o médico e interpela-o: "E o senhor doutor acha que isto é vida!"

O que pode dar resposta nestes momentos é o conceito que temos de vida. Depois a consciência de que as fases últimas da vida vão ser, normalmente, marcadas pelo sofrimento, pela doença, mas sempre por limitações crescentes. E todos nós temos dificuldade em aceitar as limitações. Somos filhos de uma sociedade prometaica, do Prometeu que tudo tenta até ir ao Olimpo roubar o fogo a Zeus. 
Vivemos numa sociedade que não nos ensina a viver com as nossas limitações, nem cria condições para vivermos com qualidade esses tempos mais difíceis. E, por isso, talvez fosse bom valorizar estas dimensões humanizadoras nos nossos programas escolares e a sensibilidade humana dos nossos ministros da saúde. Uma das coisas que ouvi no Hospital agora nestes dias e, concretamente, a propósito do cancro, foi o avanço espectacular nas novas modalidade de tratamentos bastante eficazes, mas que necessitam de medicamentos caros, E, concluía o meu interlocutor: "Mas os medicamentos caros custam mesmo bastante e os hospitais não têm dinheiro para os comprar!",

Quando é que somos capazes de construir uma sociedade que ponha a pessoa em primeiro lugar e a pessoa mais fragilizada ainda mais no centro? Não, enquanto, os bancos andarem à solta; não enquanto os mercados forem senhores absolutos; não, enquanto as agências de rating castigarem os povos para se satisfazerem e aos seus amigos, E não vale a pena o discurso conivente dos que defendem as pobres agências que não têm culpa, porque culpados somos nós e pronto.

Também concordo que culpados somos nós que nos submetemos a tudo, queremos é ser bons alunos, na esperança do favor de umas migalhas. 
Mas somos pessoas ou escravos?

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