divórcio ou casamento eterno?...

2007-10-26

Analfabetismo religioso

Ontem estive na inauguração da nova biblioteca do Seminário. Para começar não está mal, pois era urgente que uma escola de estudos teológicos tivesse uma bibioteca minimamente apetrechada. Espero que os próximos tempos permitame enriquecê-la não só de livros mas sobretudo de uma utilização, que faça render a muita sabedoria que já aí se encontra concentrada.
O estar naquele espaço fez-me lembrar quão grande é o analfabetismo religioso da maior parte dos cristãos. Educados numa catequese clássica, muitas vezes desincarnada e atemporal, redutoramente centrada na dimensão vertical (necessária mas não suficiente), esquecendo que somos chamados a testemunhar os valores do Reino no meio da sociedade (dimensão horizontal), os cristãos, na sua maioria, contentam-se com uma prática dominical mais ou menos regular e rotineira e um comportamento honesto e humano mas pouco evangélico e nada profético. Quase se pode dizer que em vez de evangelizarmos o mundo é o mundo que nos está a evangelizar. E com grande sucesso...
A culpa não será só dos cristãos de base, mas sobretudo dos homens da Palavra, que deveriam ser os télogos e sobretudo os párocos, que se mostram mais prontos a administrar sacramentos do que em preparar, de forma adequada ao nosso tempo, os cristãos para irem e no meio das suas actividades seculares serem o sal e a luz de que Jesus fala.
Parafraseando S. Paulo: Ninguém pode testemunhar, o que não conhece. E não pode conhecer, se não lhe for pregado (cf. Rom 10, 12-13).

A propósito vem a citação com que hoje quero lembrar o Concílio:
Saibam (os teólogos) buscar, à luz da Revelação, a solução dos problemas humanos, aplicar as verdades eternas à condição mutável das coisas humanas e anunciá-las de modo conveniente aos homens seus contemporâneos (Decreto sobre a formação sacerdotal, Optatam Totius, 16).

2 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Zé Dias:
Sabes, que sendo eu pároco me deixei tocar pelas palavras que tu escreceste; mas quero dizer-te que não é totalmente verdade que haja assim tanto analfabetismo religioso e nem todo ele é por culpa dos párocos e dos teólogos. Somos assim tentatdos para o mais fácil...

30/10/07 10:59

 
Blogger Zé Dias disse...

Aceito parte da crítica que me faz. Um cristão consciente sempre será o primeiro culpado pelo seu analfabetismo religioso. Estou inteiramente de acordo.
O problema é se somos cristãos (e aqui refiro-me fundamentalmente a leigos) conscientes... E a realidade é que nascemos cristãos e não precisámos de nos tornar ou ir fazendo cristãos.
Assim sendo, falta da parte dos "homens da Palavra" (PO, passim) uma responsabilidade que nem sempre é assumida. É neste contexto que responsabilizo prioritariamente os teólogos e os párocos. Num povo, com as características que acabei de referir, os presidentes das comunidades têm uma responsabilidade acrescida para estimular, neste caso, a formação. Ora o que vemos é a maior parte dos párocos esgotar-se nas celebrações litúrgicas (e digo esgotar-se porque assim é objectivamente) mas também noutras actividades que poderiam bem delegar em leigos; o que lhes deixa necessariamente pouco tempo para dedicarem à Palavra.
Eu sei que não é justo fazer generalizações, mas também estou convicto de que esta é a situação da maioria dos párocos. Aliás, os nossos Bispos dizem-no ou pelo menos insinuam-no claramente: "As actuais circunstâncias reclamam esta opção (formação cristã de base dos adultos) que talves exija uma reconversão das prioridades pastorais dos sacerdotes (esta expressão está em bold), de modo a deixarem aos leigos as tarefas não específicas dos pastores e a reservar à formação sistemática dos adultos o tempo e as energias que ela requer" (19.Jul.1994).
O mundo exige que saibamos quem somos (desafio da identidade), como ler cristãmente a realidade (desafio do discernimento) e o que devemos testemunhar (desafio da missão).
E para isso é preciso não só saber o que Deus quer, mas também fazer o que Deus quer (ChL 58).
Dito isto, peço perdão àqueles que, no meio de tanta dificuldade, procuram amorosamente que o Povo de Deus assuma conscientemente a sua viagem a caminho do Reino.

1/11/07 13:07

 

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