DIa Internnacional da Erradicação da Pobreza
Os números distribuídos sobre o número assustador de pobres deixam-nos perfeitamente indiferentes. Haveria que descobrir formas novas e suficientemente chocantes de apresentar o problema E, contudo, mesmo num país como o nosso, esta pobreza extrema poderia ser vencida desde que houvesse vontade cívica e, consequentemente, política para o fazer.
Mas para tal há muita coisa a mudar nas nossas cabeças; a mudança maior talvez seja a passagem da lógica da esmola à lógica do direito. A pobreza tem muitas causas, mas uma das principais está na má organização social (será que aceitamos esta mudança nos nossos preconceitos?). Sendo assim, trata-se prioritariamente de um problema de (in)justiça. E os problemas de justiça não se resolvem com a esmola, que é uma atitude voluntária, de favor, de superioridade (por isso pode ser um gesto tão humilhante!). A lógica do direito impõe, pelo contrário, o reconhecimento do outro como cidadão a quem são negados direitos e não como um qualquer explorador que procura tirar o que é nosso. Entrar na lógica do direito é aceitar que o outro, quanto mais pobre for, mais direitos têm, pois todos os cidadãos têm o direito aos bens e recursos da Terra para poderem viver uma vida com dignidade.
Porque, e passo à citação conciliar:
Deus destinou a terra com tudo o que ela contém para uso de todos os homens e de todos os povos: como consequência, os bens criados devem chegar a todos equitativamente, segundo a justiça, acompanhada pela caridade… Todos têm o direito de terem uma parte suficiente de bens para si e para as suas famílias. Assim pensaram os Padres e Doutores da Igreja, ensinando que os homens estão obrigados a auxiliar os pobres e não apenas com as coisas supérfluas. Quem se encontra numa extrema necessidade tem o direito de tomar das riquezas dos outros o necessário para si (Constituição A Igreja no mundo contemporâneo, Gaudium et Spes, 69)
2 Comentários:
Olá Zé,
Tu estás sempre em cima do acontecimento. Por razões de vida não tenho passado as vezes que gostaria, para saborear a tua escrita.
Mas hoje, fala-se não em pobreza, mas em erradicação. Palavras, palavras, só vãs palavras, ditas por aqueles que estão bem, com sólidos cargos, sólidas compensações, sólidas reformas.
Quem está pobre, pouco fala. Não tem força, quase nem para comer.José Penedos,Administrador da REN, Vítor Constâncio, do Banco de Portugal, dizem-nos alguma coisa? Como muitos outros, com benesses e vencimentos vergonhosos, para um país onde até o Presidente da República que acumula o seu vencimento com uma reforma de mais de 19 mil euros, vem dizer que tem vergonha dos números da pobreza em Portugal.
Como há vários anos atrás, a minha palavra é a mesma. O exemplo tem que vir de cima. melhor distribuição e acima de tudo. RESPEITO PELA PALAVRA "HUMANO".
17/10/07 20:35
Também ouvi essa de o Presidente ter vergonha.
Mas os governantes e ele até já foi presidente do executivo tem de ter mais que vergonha; têm de fazer alguma coisa para acabar com esta miséria extrema.
Mas não podemos só olhar para eles. Há uma pergunta crucial: o que pode fazer a sociedade civil, as comunidades religiosas e culturais?
Ora acontece que muitas coisas se têm feito, muito dinheiro tem sido canalizado para ajudar a resolver este problema realmente vergonhoso. Mas, e aqui fica a minha pergunta: com tudo isso, o que se passa que há tantos anos se mantém a fasquia da pobreza nos 20% da população? O que é preciso mudar? É que não basta injectar dinheiro, temos de olhar as pessoas na sua integridade e no seu enquadramento social. E aqui os governantes têm muito a fazer. Mas tambéma sociedade civil. Só um exemplo: um dia destes veio ter comigo uma pessoa a dizer-me que ainda não tinha comido nada (eram seis da tarde), que ninguém lhe dava emprego, porque ele estivera preso e agora, apesar dele, já ter pago o que devia à sociedade pelo crime, um crime menor, que cometera, AGORA ninguém o ajuda nem sequre a família. Para estas situações os decretos e as leis ajudam pouco, porque não mudam o coração das pessoas. Mas podem ajudar muito, por exemplo, em vez de acabar ou reduzir as assistentes sociais nas prisões deviam multiplicá-las nas prisões e no acompanhamento ao pós-prisão e no apoio às famílias.
Fica só como exemplo dos muitos exemplos que por aí andam.
18/10/07 10:18
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