divórcio ou casamento eterno?...

2007-10-29

Santos às centenas

Para quem, como eu, é um observador de fora (os caminhos curiais nem sempre são lineares e transparentes), a beatificação de 498 mártires da fé espanhóis não parece ter sido um contributo muito evangélico para a unidade e a reconciliação de Espanha. A missão da Igreja não é exaltar "os nossos" (porque todos somos de Deus) mas ajudar a construir pontes (por alguma razão o Papa é chamado o Sumo Pontífice) de modo a transformar a humanidade numa só família.
Até porque entre os mortos pelas tropas de Franco e pelo franquismo é bem possível que tenha havido alguns tão mártires como os que agora foram beatificados.
Esta visão vesga, dualista, da história não é certamente a visão de um Deus que amou de tal maneira o mundo (todo o mundo, o cosmos, as pessoas de todas as tendências: todos, tudo, tanto as coisas "que estão na terra como as que estão no céu" (lembro-me, dos meus anos de grego no Seminário, dos quatro tá panta (τά πάντα), "todas as coisas" do hino da Carta aos Col 1,16-19) que lhe enviou o seu Filho (Jo 3,16-17).
Esta beatificação em massa, embora não seja inédita, corre o risco de parecer mais um corolário daquelas palavras da Carta Pastoral do cardeal Gomà de 8.Agosto de 1930 ("Teve que fazer-se a guerra para ganhar a paz . Graças a Deus, que nos deu a vitória e com ela foi possível estabelecer uma paz justa") do que uma manifestação de uma comunidade que está chamada a testemunhar o Reino de Deus.

E para não esquecer o Concílio, mais uma citação:
Este povo messiânico tem por cabeça Cristo, «o qual foi entregue por causa das nossas faltas e ressuscitado por causa da nossa justificação» (Rom. 4,25) e, tendo agora alcançado um nome superior a todo o nome, reina glorioso nos céus. Tem como condição a dignidade e a liberdade dos filhos de Deus, em cujos corações o Espírito Santo habita como num templo. A sua lei é o novo mandamento, o de amar assim como o próprio Cristo nos amou (cfr. Jo. 13,34). Por último, tem por fim o Reino de Deus, o qual, começado na terra pelo próprio Deus, se deve desenvolver até ser também por ele consumado no fim dos séculos, quando Cristo, nossa vida, aparecer (cfr. Col. 3,4) e «a própria criação for liberta do domínio da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus» (Rom. 8,21) (LG 9).

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