divórcio ou casamento eterno?...

2008-06-08

A minha amiga Cândida

A Cândida casou-se ontem com o Maurice. É uma grande amiga minha pelo que foi com tristeza que não pude, por razões de saúde, participar neste momento tão significativo para eles. Mas fiquei muito feliz pelas conversas que tivemos na preparação e pelo que me foi relatado da cerimónia. Foi realmente uma festa muito bonita: uma celebração litúrgica toda carregada de simbolismo; o pedido aos amigos para que transformassem as habituais prendas num gesto de solidariedade para com instituições sociais e a oferta, que, por insistência dos familiares deram aos convidados, foi preparada numa instituição que cuida de mongolóides.
Portanto, uma celebração sacramental fora do habitual, que não só valorizou o símbolo, mas também quis destacar a dimensão social do sacramento, não esquecendo os que mais necessitados.
Porque não pude ir, mandei-lhes uma carta amiga, da qual os noivos quiseram que parte fosse lida na celebração. Aqui deixo esta passagem como homenagem à Cândida e ao Maurice:
Hoje é dia de festa para vós mas também para todos nós que temos o gozo de ser vossos amigos.
É uma festa humana, porque estamos entre irmãos da que deveria ser uma única família humana; é uma festa cristã, porque estamos entre crentes; é uma festa litúrgica, porque estamos entre aqueles que querem testemunhar publicamente a sua fé.
A Liturgia é o espaço por excelência do símbolo: mostrar por símbolos visíveis e inteligíveis o Invisível e o Ininteligível. É um exercício em que a estética justifica a ética e em que a criatividade valoriza o rito.
Apesar de não ser nada fácil, vós preparastes cuidadosamente uma celebração simbólica muito rica, dividindo-a em três gestos profundamente humanos e profundamente divinos, porque têm em comum a vivência do amor: acolher foi o grande gesto do Pai do filho pródigo; receber é o grande gesto que se espera da humanidade no acolhimento ao Deus que quis armar a sua tenda entre nós; partilhar é o sentido último da nossa vida.
Não quisestes partilhar apenas com os que estão aqui, mas também abraçar o mundo que está lá de fora. Para isso manifestastes junto dos amigos o desejo de que não houvesse prendas a não ser as da presença, da alegria e da amizade. Qualquer outra oferta, o ritual mais forte na sociedade de consumo, devia ser convertida num gesto de amor e solidariedade para com uma instituição que apoie pessoas em dificuldades.
Interpelados por esta vossa provocação tão evangélica, escolhemos as Criaditas dos Pobres, que dedicam toda a sua vida aos mais pobres dos pobres, e as Irmãs Adoradoras, que acolhem as mulheres mais marginalizadas pela nossa sociedade.
Este centrar-se no amor e na partilha é não só uma condenação profética de um consumismo imoral e alienante mas também uma forma diferente de manifestar o vosso ser cristão. Ser cristão é muito mais da ordem do estético, do encontro amoroso e gratuito com Deus e com os irmãos, do que da ordem do ético, do conjunto de normas e regulamentações muitas delas casuísticas. Sempre será uma ética mas como consequência de uma estética, como diz Bento XVI: “No início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa (Jesus Cristo), que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo” (DCE 1).
Que o nosso Deus, que é Amor oblativo, vos abençoe e vos acompanhe sempre em todos os momentos da vossa vida na fidelidade ao projecto a dois que agora assumistes publicamente.

0 Comentários:

Enviar um comentário

<< Home