A bispa anglicana
Sou dos que acreditam, como um dogma de fé, que “Deus criou o ser humano à sua imagem, criou-o à imagem de Deus; Ele o criou homem e mulher” (Gn 1,27).
Sou também dos que estão convictos de que todo o ser humano tem uma dignidade ontológica, que não confundo com a dignidade moral que decorre das acções de cada um.
E, portanto, sou dos que acreditam que há uma igualdade radical entre o homem e a mulher, independentemente das diferenças acidentais de mentalidade, cor, estatuto social, etc..
Por isso, tudo o que contribua para reforçar esta igualdade e ir eliminando diferenças injustificadas é motivo de alegria e um processo na evolução moral da humanidade.
Por isso, é muito bom ver mulheres ministras, gestoras, empresárias; como é também muito bom vê-las como padres ou bispos, como agora aconteceu na Igreja anglicana.
É sinal de que as mulheres pelo menos nalgumas confissões religiosas superaram o seu estatuto de “mulheres a dias”. Aliás já várias vezes sugeri às mulheres católicas que fizessem um ano de greve a todas as suas actividades na Igreja: catequistas, cozinheiras, lavadoras de roupa, etc. Mas bastaria um mês para que os hierarcas percebessem o que realmente fazem (d)as mulheres na Igreja.
Imagino que foi e está certamente a ser uma situação muito difícil para uma Igreja decidir que a mulher possa ser ordenada bispo. Há razões históricas, culturais, sociais, pastorais pesadíssimas.
Já tenho alguma dificuldade em entender a posição da Igreja católica. Todos sabemos o quanto lhe é desagradável esta decisão. Mas a Igreja católica também toma (ou) decisões que podem ser desagradáveis a outras. Contudo, o problema é mais de fundo. Dá a ideia que no subconsciente dos responsáveis da Igreja católica ainda há resquícios do tempo da cristandade, do “regresso dos irmãos separados”. Ora a Igreja católica não é dona nem guia de nenhuma outra. A sua grande preocupação deve ser encontrar formas actualizadas, inteligíveis e credíveis de testemunhar Jesus Cristo e os valores do Reino.
Dizer que "a ordenação episcopal de mulheres constitui um obstáculo para a unidade com a Igreja Católica" significa o quê? Que os anglicanos não deviam ter tomado esta decisão? Ora esta não é uma posição séria sobre ecumenismo. Ou nos sentamos em igualdade de condições à mesa do ecumenismo e do diálogo inter-religioso ou então esse diálogo corre o risco de ser uma farsa.
2 Comentários:
Tenho andado caladinha, mas a ler os seus textos todos. Muito obrigada pela frontalidade, pela objectividade e pela consciência cristã com que aborda os problemas, sobretudo o do estatuto da mulher na Igreja. Realmente, muitas vezes faço de conta que não vejo esta diferença de estatuto, mas a verdade é que vejo e incomoda-me. Mas quem me leva a estar na Igreja é Jesus Cristo, não a hierarquia; de outro modo, já teria batido com a porta.
Um abraço grande.
C.G.
12/7/08 13:39
Então estamos empatados. Se continuo a fazer alguma coisa na Igreja e, "apesar de tudo", profio e me recuso a deixá-la é unicamente por Jesus Crsito, como irei procurar mostrar num dos próximos dias.
Um grande abraço pelo seu trabalho e sobretudo pela sua motivação.
13/7/08 08:28
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