divórcio ou casamento eterno?...

2008-07-08

S. Paulo e as Mulheres

Vou apenas fazer uma pequena análise de duas passagens: Rom 16; Gal 3,28.

Rom 16
S. Paulo seguiu o estilo epistolar, com uma introdução, seguida por vezes de uma acção de graças a Deus ou a alguém em especial, o desenvolvimento ou mensagem e uma saudação final. Por exemplo, é duma destas conclusões que a Liturgia retirou esta oração tão bonita com que abrimos a celebração eucarística: “A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor do Pai e a comunhão do Espírito estejam com todos vós” (“Cor 13,13).


Na Carta aos Roamnos, S. Paulo enumera muitos cristãos e cristãs que trata pelo nome. Vou falar apenas das mulheres.

A nossa irmã Febe, diaconisa (diákonos) da igreja de Cêncreas” (1)
Tratava-se de uma mulher materialmente abastada que podia, por isso, reunir a comunidade em sua casa. O livro dos Actos dos Apóstolos fala de muitas conversões, de homens e mulheres de todas as classes sociais incluindo escravos, destacando, pelo menos em duas ocasiões, “senhoras das mais distintas” (17, 4.12) e acusando “os judeus de incitaram as senhoras devotas mais distintas” (Act 13,50). Estas mulheres vão ter um papel fundamental na difusão do cristianismo: os seus bens suportavam os custos da evangelização, protegem os cristãos (Rom 16, 1-2), de que o próprio Paulo beneficiou (Ac 16,4), as suas casas serviam de acolhimento e de local de reunião (Act 16,5.14. Act 16,14 fala da casa de Lídia, vendedora de púrpura), verdadeiras “igrejas domésticas”.
Paulo chama-lhe diákonos, tal como aplica a si próprio essa palavra quando defendia a sua autoridade (2Cor 3,6; 6,4) ou mencionava os seus títulos de honra (2Cor 11,21-23).
Por outro lado, trata-a como “nossa irmã”, o que não é simplesmente uma expressão de fraternidade, mas um título particular para os que ocupavam um lugar especial na comunidade, como colaboradores directos dos apóstolos. Este título foi usado, por exemplo, com Timóteo (2Cor 1,1; Flm 1) e Sóstenes (1Cor 1,1).

Prisca e Áquila, meus colaboradores em Cristo Jesus” (3).
Este casal é muitas vezes citado (Act 18,2; 18,18.26;1Cor 16,19-20; 2Tim 4,19), mas o mais interessante é que aqui quem vem em primeiro lugar é a mulher Prisca (ou Priscila como aparece noutras passagens), o que poderá significar que seria ela que presidia às reuniões em sua casa.

Maria (6), Trtifena eTrifosa e Pérside (12).
Estas quatro mulheres têm em comum a utilização por S. Paulo de um verbo técnico – kopiao – com o qual ele caracteriza o seu próprio trabalho missionário e apostólico (1Cor 15,10; Gal 4,11; Fil 2,16; Col 1,29) e que aplica a outros missionários (1Cor 116,16; 1Tes 5,12; 1Tim 5,17).

O curioso é que este verbo é sempre aplicado a colectivos, excepto aqui que é aplicado a cada uma desta mulheres.

Andrónico e Júnia, que são apóstolos insignes” (7)
A dificuldade que colocava o facto de uma mulher, "Júnia", ser “apóstolo” nos séculos posteriores levou a que alguns convertessem a mulher “Júnia” no homem “Junias”.
Passo a citar R. Aguirre: “Rapidamente o preconceito androcêntrico considerou intolerável que se chamasse apóstolo a uma mulher e os comentaristas frequentemente converteram Júnia num homem, o que não é sustentável. Outras vezes, quando aceitavam que se tratava de uma mulher, diziam que é apóstolo mas ‘em sentido amplo’”.
Como se vê, aqui, as mulheres, em vez de serem discriminadas e apesar das pressões culturais da sua época, na prática tinham amplas possibilidades de intervir na Igreja a todos os níveis e o seu empenho e esforço era não só reconhecido como foram recordadas por Paulo com todo carinho.

É que na altura, todos, homens e mulheres, estavam igualmente preocupados em servir e os mais qualificados presidiam à causa comum: o Evangelho de Cristo. O problema do poder apareceu mais tarde... mas não muito mais!!!

Deixo para amanhã Gal 3,28.

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