divórcio ou casamento eterno?...

2008-07-10

Começo do fim do protagonismo da Mulheres

O problema da crescente diminuição do protagonismo das mulheres nos primeiros séculos é um processo complexo e com muitas causas. F. R. Ribaque, de um modo simplificado, alinha quatro razões, que poderia resumir assim:
- como vimos, na análise de Rom 16, muitas mulheres ricas ofereciam a sua casa para as reuniões cúlticas e catequéticas. Ora a casa é o lugar por excelência da mulher como a praça pública o é do homem. Com o andar dos tempos, o aumento de conversões obrigou à passagem de um espaço comunitário “pequeno”, porque centrado na “casa particular”, para um âmbito mais público (“a casa da Igreja”) e a mulher deixou de estar no “seu meio”;
- a liderança comunitária centra-se cada vez mais na figura do epíscopos (bispo), cujo modelo é o paterfamilias (o pai “romano”). Veja-se esta passagem tão significativa de Inácio de Antioquia, que morreu em 110, na sua Carta aos Esmirnenses: “Segui todos o bispo, como Jesus Cristo seguiu o Pai, e o colégio dos anciãos, como aos Apóstolos; quanto aos diáconos reverenciai-os como ao mandamento de Deus. Que ninguém, sem a concordância do bispo, faça nada de quanto diga respeito à Igreja. Só deve considerar-se válida a Eucaristia que for celebrada pelo Bispo e por quem dele tenha autorização. Onde aparecer o bispo, aí está o povo, tal como onde estiver Jesus Cristo, aí está a Igreja universal. Sem a concordância do bispo, não é lícito baptizar nem celebrar a eucaristia; só aquele que ele aprovar. É isso que é agradável a Deus, a fim de que quanto fizerdes seja correcto e válido” (VIII, 1-2).
- as críticas dos pagãos quanto a este protagonismo que implicavam para as mulheres cristãs mudanças no seu comportamento; por exemplo, saídas à noite para assistir a reuniões ;
- as críticas ao casamento, quer por parte de certos movimentos ascéticos radicais, como os encratitas (que, entre outras coisas, exigiam que todos os cristãos deviam abster-se não só dos prazeres da carne mas sobretudo do casamento), quer pela proclamação crescente da superioridade da virgindade.

É significativo que já nos próprios Evangelhos se pode intuir um pouco a evolução deste apagamento do papel das mulheres, nomeadamente de Maria Madalena:
- Mateus: quando Maria Madalena e a outra Maria já se afastavam, tristes, do sepulcro vazio, Jesus apareceu-lhes: “Salve! Não temais. Ide anunciar aos meus irmãos que partam para a Galileia. Lá me verão” (28,1-10): Jesus aprece-lhes em primeiro e manda-as “evangelizar” os apóstolos;
- Marcos: Jesus “aparece primeiro a Maria de Madalena”, que foi anunciá-lo aos seus companheiros, mas eles não acreditaram; depois apareceu a dois deles e finalmente aos Onze, “a quem Jesus censurou a incredulidade e a dureza de coração por não acreditarem naqueles que o tinham visto ressuscitado” (16,9-14);
- Lucas fala da aparição não de Jesus mas de dois anjos às mulheres (Lc 24,1-11: “Lembrai-vos do que ele vos falou, quando ainda estava na Galileia”). Elas foram contar tudo isto aos Onze e a todos os restantes. Mas, como as mulheres não eram dignas de grande crédito, Pedro foi confirmar. Nesse mesmo dia aparece aos discípulos de Emaús, que, depois de reconhecerem Jesus, voltaram a Jerusalém, disseram aos Onze e aos seus companheiros: “Realmente o Senhor ressuscitou e a apareceu a Simão” (Lc 24,34). A aparição às mulheres foi ignorada e foi acrescentada a aparição a Pedro;
- João: as mulheres já não recebem o anúncio pascal junto sepulcro: vão ao sepulcro e quando viram a pedra retirada, correm para informar Pedro, que conjuntamente com o discípulo amado, foi verificar o sepulcro vazio (Jo 20,1-10). Entretanto, Maria Madalena ficou junto ao sepulcro a chorar até que, mais tarde, Jesus lhe aparece e ela foi anunciar aos discípulos: “Vi o Senhor!”. E contou o que Ele lhe tinha dito” (20,11-18).

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