divórcio ou casamento eterno?...

2008-07-06

Jesus e as Mulheres

Basta percorrer os Evangelhos para ver a grande quantidade de mulheres com que Jesus se relaciona. Gostaria de referir duas delas.

Jesus e a Samaritana (Jo 4,1-42)
É um episódio longo e muito instrutivo a vários níveis mas vou-me fixar apenas em dois ou três.
Um primeiro motivo de alguma estranheza passa despercebido nas traduções portuguesas demasiado soft: “Convinha-lhe atravessar a Samaria” ou “Tinha de atravessar a Samaria”. Jesus estava na Galileia e queria passar para a Judeia. Realmente passando pelo meio da Samaria era o caminho mais curto, demorava menos tempo mas era muito mais perigoso, pelo que o habitual era evitar a Samaria e descer pelo vale do Jordão. Contudo, o verbo grego usado (deo) tem subjacente a ideia de necessidade, de qualquer coisa que devia ser obrigatoriamente feita e não de uma mera decisão conjuntural. Poderá estar ligado a um propósito evangelizador, como aliás o resto do relato confirma. “Era preciso” passar pela Samaria. É este mesmo verbo que aparece por eeplo na parabóla do filho pródigo, quando o Pai justifica ao filho mais velho todo revoltado: "Nós tínhamos que fazer uma festa e alegrar-nos porque o teu irmão estava morto e reviveu; estava perdido e foi encontrado" (L 15 32)
Também as traduções portuguesas não ajudam a perceber uma aspecto muito importante do relato: “Como é que tu, sendo judeu, me pedes de beber a mim que sou samaritana?”. Também aqui o grego tem um cambiante importante para a esta reflexão: em vez de “samaritana”, no original está “mulher e samaritana” ambas com artigo definido (e guné e Samarítis). E destaco isto, prque o original refere uma dupla discriminação: ela não só era mulher mas era também samaritana. Contudo, Jesus não teve qualquer problema em falar com ela.
Além disso, para lá de os homens não se poderem dirigir às mulheres em público, os rabis nunca o faziam porque a mulher era absolutamente incapaz de perceber as coisas de Deus.
Portanto, Jesus coloca a mulher, independentemente da sua dupla marginallização, em igualdade com qualquer homem que se sentasse com ele à beira do poço.
A gravidade da situação devia ser tal que os próprios discípulos, ao chegarem da cidade, “ficaram admirados por ele estar a falar com uma mulher. Mas, acrescenta o Evangelho, ninguém ousou perguntar-lhe a razão desta sua atitude. Infelizmente ainda hoje é assim: a hierarquia manda e nós obedecemos, incapazes de questionar e “usar a cabeça” quanto mais não seja em nome da nossa vocação baptismal.
Finalmente, bastou uma meia-hora de conversa com esta mulher (supostamente pouco inteligente e incapaz de entender as coisas de Deus) para ela se converter em verdadeira apóstola de Jesus. Imediatamente deixa a bilha na beira do poço e corre para a cidade a anunciar a boa nova de ter encontrado o Messias. E deve ter sido tal o seu entusiasmo e a força persuasiva das suas palavras que, apesar de ser uma mulher pouco recomendada na terra, todos vieram ver Jesus e ouvi-lo. Só então eles disseram à mulher: “Agora já não é por causa do que nos disseste que acreditamos, pois nós próprios ouvimos e sabemos que ele é o Salvador do mundo” (42).
Mas o primeiro anúncio foi desta dupla excluída da sociedade que Jesus considerou uma pessoa com iguais direitos e deveres e com capacidade para ser sua apóstola.

Jesus e a mulher com fluxo de sangue (Mt 9,20-22)
O episódio é suficientemente conhecido, pelo que me limito a duas pequenas notas.
1. A força e a coragem desta mulher para se aproximar de Jesus e tocá-lo em segredo. Em segredo, porque ela não podia publicitar a sua doença, pois era uma mulher impura e tornava impuro tudo o que trocasse e, portanto devia viver isolada, quase como os leprosos: “Quando uma mulher tiver hemorragias frequentes fora ou depois da menstruação, ficará impura como na menstruação, enquanto durarem as hemorragias” (Lev 15,25).
Por outro lado era uma mulher de uma confiança e de uma fé profundas: “Se eu o tocar, ainda que seja apenas no manto, serei curada”.
2. A resposta de Jesus é de acolhimento e libertação. Deixa-se tocar por uma mulher impura, não a denuncia, publicitando o seu mal, apenas lhe diz: “Tem confiança, filha. A tua fé te salvou”.
E talvez mais importante que tudo isso, Jesus não se sentiu impuro por ter sido tocado por ela. Ao agir assim, Jesus denuncia e rejeita a tradição judaica que considerava impura toda a mulher menstruada que, por essa condição, não podia aproximar-se dos lugares sagrados; como mais tarde não podia aproximar-se do altar.
Homem e mulher são iguais perante Deus, cada um com as suas funções e características próprias que resultaram do próprio acto criador de Deus e nunca poderão ser considerados impuros porque os seus corpos, nas suas potencialidades e nas suas limitações, correspondem ao plano original de Deus.

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