Mudar de mentalidade e de atitude
Embora ainda queira fazer mais dois comentários sobre as mulheres na Bíblia, resolvi fazer uma interrupção para reproduzir aqui o meu artigo sobre os tempos difícies que vivemos, já que eles exigem de todos e cada um de nós duas mudanças profiundas:
- de mentalidade de meninos mimados que só fazemos o que nos petece;
- de atitudes que não podemos manter já que estamos a viver acima das nossas posses.
VIVER COM ESPERANÇA ESTES TEMPOS NOSSOS
Este tempo que somos chamados a viver não é um tempo fácil. É certo que sempre temos tendência a supor que as nossas dificuldades são maiores que as de outros tempos, como se no passado tudo fosse facilidades. Contudo, bastará recordar, já no meu tempo de “trabalhador profissional” um ano em que recebemos apenas meio subsídio de Natal e Portugal não deixou de ser nação nem de se ir integrando numa Europa que se vai construindo aos soluços.
Acho que um dos méritos que se poderá atribuir ao governo de Sócrates foi ter feito com que as pessoas percebessem que vivíamos realmente um período difícil, que os tempos não estavam para brincadeiras e que todos tínhamos de tomar consciência dessa realidade. Já há muito se falava de crise, mas era uma palavra sem conteúdo e sobretudo sem repercussões na realidade concreta do dia a dia.
Mas não conseguiu efectivamente convencer as pessoas de que a crise era uma realidade cuja solução teria de passar pelo contributo de todos e não apenas de alguns. De repente todos passaram a vestir a camisola do clube “Os outros que paguem a crise”. Assistimos então ao que assistimos: ameaças corporativas, manifestações quase imorais de egoísmos grupais na defesa dos ditos “direitos adquiridos”, verdadeiros privilégios discriminatórios. Mas lá fomos vivendo. Pior que isso, foi a recusa em alterar comportamentos individuais. Assim assistimos hoje a um crescente endividamento das famílias: qualquer coisa como 130%! Pessoas e famílias vivemos muito acima das nossas possibilidades. Vamos no canto das sereias dos bancários que distribuem cartões a rodos, propõem “compre agora e pague com o próximo ordenado” e até há os que depositam sem autorização do próprio o ordenado do mês seguinte para o cliente poder continuar a endividar-se: sempre haverá uma casa ou um carro para enriquecer o património bancário! Outro exemplo: apesar dos aumentos contínuos da gasolina, quantos foram os que deixaram de andar de carro particular? As estatísticas falam de 8%, o que tendo algum significado está muito longe de corresponder ao volume das queixas. Mais um exemplo se poderá encontrar visitando os restaurantes e até parece que quanto mais caros mais cheios!
Outra ideia, que não foi possível desmontar na maioria dos cidadãos, é a de que o Estado é uma entidade autónoma, que nada tem a ver com os cidadãos e que além disso tem todo o dinheiro que quer. Daqui decorre várias consequências graves. A primeira é a de, sendo assim, o cidadão só não foge aos impostos se não puder. E agora que o fisco decidiu perseguir os faltosos estamos sempre mais prontos a valorizar os excessos e até injustiças cometidas (e é um exercício de cidadania não deixar cometê-los) do que a louvar essa “perseguição” exigida pela justiça social. E em vez de impostos, poderia falar na praga das “baixas” fraudulentas. Mas há outras consequências. Sempre que algum grupo, justa ou injustamente, vem reclamar dinheiros ao Estado esquece que não são do Estado, mas dos contribuintes: o Estado não tem uma máquina de fazer dinheiro para dar sempre que alguém pede. A sua função é gerir os dinheiros de todos com proporcionalidade e justiça social sempre ao serviço do bem comum. Isto é o que temos o dever de exigir do Estado. Mas esta exigência não acarreta apenas responsabilidades para os governantes que devem fazer o melhor uso possível de um dinheiro que não é seu; traz também responsabilidades para os cidadãos que devem, também em espírito de solidariedade e até subsidiariedade, aceitar e até exigir discriminações positivas para aqueles grupos ou pessoas que estão mais carenciadas ou são vítimas da nossa má organização social. E aqui o egoísmo dos cidadãos é proverbial: os mais carenciados somos sempre nós. Por isso se torna aqui particularmente exigente o papel do Estado numa atenção privilegiada aos mais necessitados, que neste momento começam a alargar-se à classe média (há já quem peça comida por mail), porque, como já dizia Leão XIII, os ricos sempre resolvem bem as suas dificuldades.
Finalmente, nestes nossos tempos difíceis que não acabaram, seria bom que todos tomássemos consciência de que esta situação exige o contributo de todos. Do Estado espera-se uma gestão dos nossos dinheiros públicos inovadora e com novos paradigmas (não tenhamos ilusões: os paradigmas passados já não servem!), o desenvolvimento de políticas ousadas e criativas nos vários âmbitos social, habitacional, laboral, familiar, educacional, sanitário e também a capacidade de transmitir um espírito realista de optimismo e confiança no futuro.
Mas também aos cidadãos é pedido que deixem de ser meninos mimados, exigindo birrentamente tudo o que lhes apetece, que mudem hábitos e costumes, que aceitem que têm de fazer sacrifícios. No fundo que ganhem juízo, se tornem adultos responsáveis e se disponham a dar o seu contributo para a construção de um país mais justo, mais solidário, mais humano.
Os tempos difíceis não se superam com pessimismos e lamentações, mas com a certeza de que todos juntos somos capazes. E sobretudo com muita esperança. Basta acreditar. Basta todos querermos, dando cada um o contributo que lhe compete. Até porque um país com quase nove séculos de história já passou por muita coisa e já venceu muitas crises. Também vamos vencer esta. Porque we can, como dizia Obama.
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