Construção de um mundo melhor
É evidente que a luta obrigatória pela justiça tem como primeiro significado colaborar na construção de um mundo mais à medida da pessoa.
Mas antes, sobretudo para os cristãos, é importante desmontar alguns preconceitos e mudar algumas atitudes.
Como resultado de uma catequese muito marcada por um tom pessimista relativamente ao mundo, há conceitos a superar e há a atitudes novas a assumir.
Este pessimismo, que ainda marca muitos cristãos, esquece que foi Deus que criou o mundo e que ao criá-lo viu que era bom. Há pois uma bondade natural do mundo, que o pecado veio manchar mas não apagar.
O mundo não é o" inimigo da alma", como durante tantos anos se ensinou na catequese, mas é o local onde acontece a salvação de Jesus Cristo e “onde permanece o mistério do próprio homem, o qual se descobre filho de Deus, no decurso de um processo histórico e psicológico em que lutam e se alternam violências e liberdade, peso do pecado e sopro do Espírito” (OA 37).
Por outro lado, a ordem existente, porque marcada pelo pecado, não é a ordem querida por Deus. Por isso João Paulo II falou de “estruturas de pecado” (SRS 36) e de “mecanismos perversos” (SRS 16) que é preciso combater. E este combate é muito difícil porque as estruturas de pecado – todas as situações e instituições que não oprimem a pessoa e evitam o seu desenvolvimento autêntico – embora sejam criação do homem, rapidamente se autonomizam e escapam ao controlo humano.
Esta ambiguidade do mundo, associada a um estilo de intervenção pouco estimulante dos políticos em geral, muitos deles, deve-se dizer, cristãos ou pelo menos de formação cristão, afasta os cristãos deste compromisso que decorre do seu próprio baptismo. Por isso, João Paulo II verberou tão violentamente esta falta grave de “compromisso político” que nada justifica: “Todos e cada um têm o direito e o dever de participar na política, embora em diversidade e complementaridade de formas, níveis, funções e responsabilidades. As acusações de arrivismo, idolatria de poder, egoísmo e corrupção que muitas vezes são dirigidas aos homens do governo, do parlamento, da classe dominante ou partido político, bem como a opinião muito difusa de que a política é um lugar de necessário perigo moral, não justificam minimamente nem o cepticismo nem o absentismo dos cristãos pela coisa pública” (ChL 42).
Paulo VI deixou-nos desafios irrenunciáveis especialmente aos leigos.
Encargo pelo futuro colectivo
Construir a cidade, lugar de existência dos homens e das suas comunidades ampliadas, criar novos modos de vizinhança e de relações, descortinar uma aplicação original da justiça social, assumir, enfim, o encargo deste futuro colectivo que se preanuncia difícil é uma tarefa em que os cristãos devem participar. A esses homens, amontoados numa promiscuidade urbana que se torna intolerável, é necessário levar uma mensagem de esperança, mediante uma fraternidade vivida e uma justiça concreta (OA 12).
Responsabilidade individual
Seria bom que cada um procurasse examinar-se para ver o que é que já fez até agora e aquilo que deveria fazer. Não basta recordar os princípios, afirmar as intenções, fazer notar as injustiças gritantes e proferir denúncias proféticas; estas palavras ficarão sem efeito real se não forem acompanhadas, para cada um em particular, de uma tomada de consciência mais viva da sua própria responsabilidade e de uma acção efectiva. É por demais fácil alijar sobre os outros a responsabilidade das injustiças se se não dá conta ao mesmo tempo de como se tem parte nelas e de como a conversão pessoal é algo necessário, primeiro que tudo o mais (OA 48).
Pluralismo de opções
Nas diferentes situações concretas e tendo presentes as solidariedades vividas por cada um, é necessário reconhecer uma variedade legítima de opções possíveis. Uma mesma fé cristã pode levar a assumir compromissos diferentes. A Igreja convida todos os cristãos para uma dupla tarefa de animação e de inovação, a fim de fazerem evoluir as estruturas para as adaptarem às verdadeiras necessidades actuais (OA 50)
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