divórcio ou casamento eterno?...

2008-07-22

A Igreja tem futuro?

Manifestamente que o ponto de interrogação é uma provocação, pelo menos para mim que sou crente.
A história mostra que todas as instituições, tal como as pessoas, nascem, crescem e morrem.
Tal não parece acontecer com as religiões. Talvez, para lá de exemplos secundários, talvez apontasse duas excepções: a “derrota” da Deusa-Mãe perante um deus masculino, “o senhor dos exércitos”; a passagem do politeísmo, via enotismo, ao monoteísmo.
A Igreja católica tem atrás de si uma longa história e uma longa experiência, mas isso de pouco lhe vale, se não mudar e se adaptar, como pedia o Concílio, ao mundo de hoje.
Rahner dizia que a Igreja estava a passar por um Inverno. Neste momento é crescente a perda de praticantes. Bastará recordar o inquérito à diocese de Lisboa que em meia dúzia de anos perdeu cerca de 100 mil fiéis praticantes. Consolamo-nos, dizendo que somos poucos (quantidade) mas melhores (qualidade)!
Seja como seja, parece estarmos a caminhar para um “resto”. Esperemos que se trate de um “resto” no sentido bíblico do “resto de Israel” que resistiu ao exílio na Babilónia e renovou e reforçou a sua fé em Deus, superando situações aparentemente insolúveis.
Possivelmente este será um caminho, se não soubermos dar respostas convincentes aos desafios actuais: ser um “resto” e ainda, por cima, em diáspora: pequenas comunidades, onde se pratique o acolhimento, se aprofunde a fé, se embeleze a liturgia, se exercite a solidariedade, se viva a caridade.
Mas não terá que ser assim. A Igreja tem um futuro e até risonho se for capaz de responder aos desafios que o nosso tempo permanentemente coloca. O núcleo central da sua doutrina está definido, mas poucas vezes é testemunhado: amar a Deus em cada homem e mulher, especialmente nos mais carenciados, visibilizando o amor; lutar pela justiça num mundo tão desigual e tão marginalizador. Não é daí que vem o perigo para o futuro da Igreja. Vem, por exemplo, de muitas das suas estruturas desajustadas, de muita da sua pastoral mais apologética que de comunhão, de um excesso de clericalismo, de uma falta de coerência e do profundo analfabetismo religioso de muitos cristãos.
Tudo isto vale a pena ser aprofundado: uma doutrina perene que deve dar respostas de modo actualizado e não a-temporal a um hoje, tão sem esperança, um testemunho de vida coerente e convincente e uma organização pastoral e institucional que seja mobilizadora dos próprios cristãos.

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