Opção pelos pobres: Prática
Não tenho quaisquer dúvidas de que a Igreja, através das suas instituições de solidariedade sociais, é a que mais gente necessitada apoia. Ouvi isto a muita gente não crente e até em reuniões oficiais.
Sei que a Conferência episcopal prepara um inquérito que pode quantificar esta afirmação. E penso que é muito útil termos esses dados. Bem sei que os cristãos foram durante muito tempo educados para cumprir a passagem evangélica: “Não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita” (Mt 6,3). E, no entanto, ainda antes aparece uma outra afirmação não menos importante: “Não se acende uma cadeia para colocar debaixo do alqueire mas sobre o candelabro e assim alumiar quantos estão em casa. Do mesmo modo brilhe a vossa luz diante dos homens, a fim de que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai que está nos céus ” (Mt 5,15-16).
Numa sociedade, mais pronta a noticiar as acções menos dignas do ser humano, era bom não perder de vista este último desafio evangélico. Até porque tal como o mal se “pega”, também o bem se “pega” se for igualmente publicitado.
Contudo, a opção pelos pobres, como referi ontem, não é uma “”obrigação” de um grupo ou de um conjunto de pessoas, mas faz parte da estrutura e da natureza da Igreja. Portanto não se esgota na atenção aos mais carenciados. Tem repercussões fundas no comportamento da própria Igreja.
Isto é, a opção pelos pobres tem inevitáveis consequências eclesiológicas e, portanto, deve reflectir-se nas estruturas e na vida da Igreja. Não se trata de uma mera declaração de intenções. Por exemplo, há que perguntar qual o papel e a função social que a Igreja e os próprios cristãos exercem na sociedade. E, poderia colocar, como muitos outros, algumas questões:
- O acento tónico põe-se na conservação ou na transformação da ordem social? E que tipo de transformação?
- Insiste nos problemas estruturais que criam a injustiça na ordem nacional ou internacional ou, pelo contrário, a sua preocupação centra-se no âmbito do privado, individual ou familiar?
- Destaca o carácter escatológico e peregrino da Igreja (LG 48) para, a partir dessa perspectiva, abordar os conflitos e as tensões sociais, fazendo uma adequada leitura dos sinais dos tempos, ou, pelo contrário, passa ao lado das tensões, como se elas não existissem?
- A prioridade vai para a relação Igreja-Mundo e para a teologia da missão ou, pelo contrário, a comunidade cristã fecha-se e concentra-se nos seus problemas internos?
Estas e outras questões análogas resultam das exigências de uma verdadeira opção pelos pobres que implicam um novo estilo de vida, quer das pessoas quer das comunidades, que deve passa por:
- um modo novo de olhar as coisas: olhar a história e os acontecimentos a partir do pobre dá uma perspectiva muito diferente da que se obtém quando nos colocamos na posição do rico e do poderoso;
- um modo diferente de ver os pobres: não como um fardo (CA 58) ou "importuno maçador" (CA 28c), mas como um irmão em Cristo e como um (potencial) cidadão também responsável pela construção da sociedade e do futuro;
- uma maneira nova de viver: criando novos estilos de vida e de modelos de produção, de consumo e de poder (CA 36b) e sacrificando "as situações de lucro e de poder e os (actuais) estilos de vida" (CA 52b.c).
Como se vê a opção pelos pobres não é um mero acidente mas uma maneira de ser Igreja e de ser cristão.
2 Comentários:
so para te deixar um grande abraço agradecido pelo que tens por aqui deixado escrito.
Ze Pedro
26/7/08 14:04
Também um abraço muito grande para vós.
27/7/08 17:03
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