Opção prioritários pelos pobres: Fundamentos
Quero começar por dizer que a praticamente todos os autores que li sobre a opção pelos pobres colocam-na como uma consequência de outros princípios ou valores. Eu discordo absolutamente pois considero que esta é uma característica estruturante do ser Igreja e do ser cristão.
Só encontrei um teólogo que tem uma opinião diferente dessa esmagadora maioria: “A opção pelos pobres não significa um processo exclusivamente pastoral, de extensão da Igreja a mais um novo campo de evangelização, mas significa fundamentalmente um processo interno de mudança radical e de conversão profunda da Igreja na sua totalidade. A opção pelos pobres não é para a Igreja uma opção acidental, preferencial ou privilegiada, mas uma opção constitutiva, estrutural e essencial” (P. Richard)
Os meus principais argumentos são os seguintes.
É a opção do nosso Deus
Faz parte da essência do nosso Deus preferir os pobres: o nosso Deus não é neutro; intervém na história em favor dos mais desprotegidos, ouve-os e castiga quem os oprime, como mostra o AT. Deus, na sua primeira apresentação, define-se como libertador: ouve o clamor dos oprimidos, toma a sua defesa contra o faraó opressor e decide comprometer-se para libertar os oprimidos: «Porque conheço as suas (do meu povo) angústias, decidi libertá-lo da mão dos egípcios, para fazê-lo subir a uma terra onde corre leite e mel» (Ex 3,7-8). Os Profetas e os Salmos estão continuamente a apresentar Deus como o defensor dos pobres: da viúva, do órfão e do estrangeiro.
É a opção de Jesus Cristo
Jesus Cristo veio para anunciar a Boa Nova aos pobres (Lc 4,18-21) e até se identificou com eles (Mt 25,40.45). Introduz até perspectivas radicalmente diferentes das do mundo: seremos julgados pelo modo como tratarmos os mais pobres (Mt 25,40); veio para todos (Lc 4,18ss), mas coloca-se prioritariamente do lado dos excluídos: mulheres, pecadores, publicanos, leprosos.
O pobre como lugar teológico
O pobre é um dos “lugares” onde Deus está realmente presente. Bento XVI diz isso de um modo tão simples como profundo: “Amor a Deus e amor ao próximo fundem-se num todo: no mais pequenino, encontramos o próprio Jesus e, em Jesus, encontramos Deus” (DCE, 15).
É uma exigência estrutural de qualquer sociedade
Por muito evoluídas que sejam as sociedades, por muito que os serviços e variados apoios sociais se multipliquem e actualizem, sempre haverá situações de carência a exigirem das comunidades cristãs o exercício da opção pelos mais pobres (ChL 41).
Evangelizar os pobres hoje não pode resumir-se a apresentar-lhes a Boa Nova da salvação, mas também a anunciar e sobretudo a realizar a justiça divina que o Evangelho proclama e que está prometida não apenas para um futuro longínquo, fora da história, na plenitude do Reino de Deus, mas para o hoje concreto em que somos chamados a testemunhar e a proclamar a salvação.
É o critério último para entrar no Reino de Deus
“Quando vier o Filho do homem… todos os povos estarão reunidos e separados… Então dirá aos da sua direita: “Vinde benditos de meu Pai, entrai na posse do Reino que vos está preparado… Porque tive fome e destes-me de comer, tive sede e deste-me de beber, era peregrino e hospedastes-me, andava nu e vestistes-me, estava doente e visitastes-me, estava no cárcere e fostes ver-me”… E quando é que fizemos isso?... E o Rei responder-lhes-á: “Em verdade vos digo que tudo o que fizestes a um dos meus irmãos mais pequeninos foi a Mim que o fizestes” (Mt 25,31-32.34-37. 40).
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