divórcio ou casamento eterno?...

2008-07-28

Opção pelos pobres – Critérios práticos

O Concílio, depois de deixar claro que “toda a actividade apostólica deve fluir e receber a força da caridade”, recorda que “algumas obras, porém, prestam-se, por sua própria natureza, a tornarem-se viva expressão dessa caridade. Cristo quis que elas fossem sinais da sua missão messiânica” (AA 8).
Por isso, no exercício dessas obras, o próprio Concílio define critérios exigentes que nem sempre são tidos em conta no exercício da caridade para com os mais necessitados: “Para que este exercício da caridade seja e apareça acima de toda a suspeita, considere-se no próximo a imagem de Deus, para o qual foi criado; veja-se nele a Cristo, a quem se oferece tudo o que ao indigente se dá; atenda-se com grande delicadeza à liberdade e dignidade da pessoa que recebe o auxílio; não se deixe manchar a pureza de intenção com qualquer busca do próprio interesse ou desejo de domínio; satisfaçam-se antes de mais as exigências da justiça e não se ofereça como dom da caridade aquilo que já é devido a título de justiça; suprimam-se as causas dos males, e não apenas os seus efeitos; e de tal modo se preste a ajuda que os que a recebem se libertem a pouco e pouco da dependência alheia e se bastem a si mesmos” (AA 8).
Bento XVI, na sua primeira encíclica (DCE: Deus caritas est), quis também ele explicitar, no nº 31, esses critérios tendo em conta os tempos e a prática de hoje, sempre a partir de que a actividade caritativa da Igreja nunca pode resumir-se a uma simples obra assistencial: “É muito importante que a actividade caritativa da Igreja mantenha todo o seu esplendor e não se dissolva na organização assistencial comum, tornando-se uma simples variante da mesma” e logo a seguir pergunta: “Mas, então quais são os elementos constitutivos que formam a essência da caridade cristã e eclesial?
O Papa enumera cinco normas.
1) A dimensão assistencial, que não sendo a única, é sempre necessária no nosso mundo: “Segundo o modelo oferecido pela parábola do bom Samaritano, a caridade cristã é, em primeiro lugar, simplesmente a resposta àquilo que, numa determinada situação, constitui a necessidade imediata: os famintos devem ser saciados, os nus vestidos, os doentes tratados para se curarem, os presos visitados, etc.”.
2) A competência profissional, tantas vezes esquecida; muita gente pensa que basta a boa vontade, mas os problemas de hoje são por vezes demasiados complexos para os deixar ao simples voluntarismo, por muito bem intencionadas que sejam as pessoas: “Requer-se antes de mais a competência profissional: os socorristas devem ser formados de tal modo que saibam fazer a coisa justa de modo justo, assumindo também o compromisso de continuar o tratamento”. 3) Mas não basta ser competente na matéria; é preciso ser perito em humanidade, saber ver e trabalhar com o coração. A melhor técnica pode ser fria; só o amor dá calor humano: “A competência profissional é uma primeira e fundamental necessidade, mas por si só não basta. É que se trata de seres humanos e estes necessitam sempre de algo mais que um tratamento apenas tecnicamente correcto: têm necessidade de humanidade, precisam da atenção do coração. Todos os que trabalham nas instituições caritativas da Igreja devem distinguir-se pelo facto de que não se limitam a executar habilidosamente a acção conveniente naquele momento, mas dedicam-se ao outro com as atenções sugeridas pelo coração, de modo que ele sinta a sua riqueza de humanidade. Por isso, para tais agentes, além da preparação profissional, requer-se também e sobretudo a «formação do coração».
4) Não deve estar dependente de governos e partidos: “A actividade caritativa cristã deve ser independente de partidos e ideologias. Não é um meio para mudar o mundo de maneira ideológica, nem está ao serviço de estratégias mundanas, mas é a actualização aqui e agora daquele amor de que o homem sempre tem necessidade”.
5) E sobretudo deve ser desinteressada. Não deve fazer-se para converter alguém ao cristianismo ou para exigir serviços pessoais que a pessoa pode ter dificuldade em recusar, porque o amor autêntico é sempre um amor gratuito: “Além disso, a caridade não deve ser um meio em função daquilo que hoje é indicado como proselitismo. O amor é gratuito; não é realizado para alcançar outros fins”.

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