Direito divino à diferença
Gosto muito desta parábola de Jesus, que foi lida no domingo de ontem. Para quem não a conheça aí vai ela.
O Reino do Céu é semelhante a um homem que semeou boa semente no seu campo.
Ora, enquanto os seus homens dormiam, veio o inimigo, semeou joio no meio do trigo e afastou-se. Quando a haste cresceu e deu fruto, apareceu também o joio. Os servos do dono da casa foram ter com ele e disseram-lhe: “Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? Donde vem, pois, o joio?” Respondeu-lhes ele: “Deve ser obra de um inimigo”. Disseram-lhe os servos: “Queres que vamos arrancá-lo?”. Ele respondeu: “Não, para que não suceda que, ao apanhardes o joio, arranqueis o trigo ao mesmo tempo. Deixai um e outro crescer juntos, até à ceifa; e, na altura da ceifa, direi aos ceifeiros: Apanhai primeiro o joio e atai-o em feixes para ser queimado; e recolhei o trigo no meu celeiro (Mt 13,24-30).
Para mim esta parábola traz-me três ensinamentos.
O primeiro é que, apesar de haver trigo e joio, ambos têm direito a viver até ao tempo da colheita, porque não sabemos bem se o trigo é mesmo trigo e o joio é mesmo joio. É o que chamo o direito divino à diferença. Somos todos diferentes. E a vida não é apenas branco e preto, trigo e joio, bom e mau. Todos temos um pouco das duas partes.
O segundo é consequência deste primeiro. Devo ter muito cuidado a julgar os outros: quantas vezes penso que é joio o que afinal é autêntico trigo e quantas vezes considero trigo o que não passa de mero joio.
O terceiro é a paciência de Deus. O nosso Deus é de uma paciência infinita. Está sempre à espera de um gesto nosso que ao menos insinue a nossa conversão, a nossa mudança de vida. E por esse pequeno gesto Ele está disposto a esperar toda uma vida. Por isso, não permite que o joio seja arrancado, porque sempre espera que o joio se converta em trigo. E então haverá uma grande festa!
Claro que nós nem temos essa paciência, somos demasiado prontos a julgar e só estamos disponíveis para ver o trigo como nós o imaginamos.
É por isso que somos tão diferentes de Deus.
Mas, que diabo!, podíamos aprender alguma coisinha com Ele!
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