O Homem é o caminho da Igreja
Ninguém é mais defensor da dignidade da pessoa que a doutrina bíblica e a da Igreja. Logo nas primeiras páginas, Deus cria o ser humano à sua imagem e semelhança (Gn 1,27). No Evangelho, Jesus proclama que “o sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado” (Mc 2, 27). Várias vezes se repete que Deus não faz acepção de pessoas.
João Paulo II fez dessa doutrina uma doutrina basilar da prática da Igreja. O Homem é o caminho da Igreja: o homem e a mulher não abstracto mas concreto nas suas circunstâncias específicas.
Cada homem, em toda a sua singular realidade do ser e do agir, da inteligência e da vontade, da consciência e do coração. O homem na sua singular realidade (porque é "pessoa") tem uma história da própria vida e, sobretudo, da própria alma. Segundo a abertura interior do seu espírito, e tendo em conta tantas e tão diversas necessidades do seu corpo e existência temporal, o homem escreve a sua história pessoal, através de numerosos laços, contactos, situações e estruturas sociais, que o unem aos outros homens, a partir do primeiro momento da sua existência sobre a terra, desde o momento da sua concepção e do seu nascimento. O homem, na plena verdade da sua existência, ser pessoal e ser comunitário e social - no âmbito da própria família, da sociedade, de circunstâncias bem diversas, no âmbito da própria nação ou povo (e, talvez, ainda somente do clã ou da tribo), enfim no âmbito da humanidade inteira - este homem é o primeiro caminho que a Igreja deve percorrer no cumprimento da sua missão: ele é o primeiro e fundamental caminho da Igreja, caminho traçado pelo próprio Cristo e que imutavelmente o conduz através do mistério da Incarnação e da Redenção (RH 14).
Por isso, ele definiu como “tarefa essencial, central e unificadora da Igreja descobrir e ajudar a descobrir a dignidade inviolável de cada pessoa humana” (ChL 37). São três adjectivos muito fortes: essencial, pertence ao seu núcleo estruturante; central, deve estar no centro das suas preocupações; unificador, deve ser o pirmiero critério e presidir à elaboração e planificação de toda a acção pastoral.
E estabeleceu, como sinal específico para que essa tarefa fosse eficazmente cumprida e exercida, a luta incessante e permanente pelos direitos humanos: O reconhecimento efectivo da dignidade pessoal de cada ser humano exige o respeito, a defesa e a promoção dos direitos da pessoa humana. Trata-se de direitos naturais, universais e invioláveis. Ninguém, nem o indivíduo, nem o grupo, nem a autoridade, nem o Estado, pode modificar e muito menos eliminar esses direitos que emanam do próprio Deus (ChL 38).
A luta pelos direitos humanos é hoje uma luta universal e é, portanto, um campo onde os cristãos são chamados a colaborar com todos os homens e mulheres de boa vontade, crentes e não crentes.
Mas será que os cristãos conhecem estes textos estruturantes? E se os conhecem estão disponíveis para os pôr em prática e para colaborar com outras religiões e outras ideologias? Ou basta-lhes ir à missa aos domingos?
Para evitar essa tentação também os nossos Bispos fizeram um solene apelo: Se cada cidadão, no âmbito da sua vida e influência, se preocupar em viver e em praticar, com verdadeiro espírito, os direitos humanos fundamentais, fará com que a sua convicção e acção se estendam, progressivamente, a outras esferas da vida. Um cristão tem redobrados motivos para fazer dos direitos humanos um campo de militância e para se empenhar com eles e com outros, cristãos ou não, na mesma causa, tão urgente como importante (Carta Pastoral nos 50 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos).
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