divórcio ou casamento eterno?...

2008-07-13

A Igreja minha mãe

É bem possível que quem tenha lido os meus últimos comentários me julgue um católico (o que já não é muito bom!) marginal e azedo com a Igreja.
Mas quero dizer solenemente que tal não corresponde à verdade. Como mostrarei mais tarde devo quase tudo à Igreja e estou-lhe muito grato por isso. Mais. Penso que amo profundamente a Igreja, embora seja difícil ser juiz em causa própria. Magoa-me, como católico, que a maior parte dos cristãos não conheçam, não leiam nem sobretudo meditem os documentos do concílio Vaticano II. Magoa-me, como católico, que a maior parte dos cristãos desconheça os documentos da doutrina social da Igreja. Magoa-me, como católico, que a maior parte se contente com uma catequese feita há décadas ou mais recentemente, mas que continua muito sacramentalista e normativa. Magoa-me, como católico, que haja ainda muitos que pensam que compram o céu indo à missa ao domingo ou peregrinando a Fátima, esquecendo aquelas palavras: “Não é o que diz Senhor, Senhor que entrará no reino dos céus, mas o que cumpre a vontade de meu Pai” (Mt7,21).
É que todo esta situação impede ou dificulta que a Igreja possa ser numa sociedade plural e aberta uma voz que tem coisas importantes para a vida e sobretudo propostas de esperança para tantos que vivem a crise do desespero, dificuldades de todo o tipo, falta de sentido de vida ou de futuro.
Foi de algum modo contra este estado de coisas que tomei a decisão, com apoio familiar, de, há cerca de vinte anos, me reformar na esperança de poder dar um minúsculo contributo na luta contra este analfabetismo religioso que retira tanta qualidade ao testemunho cristão. Bem sabia e agora melhor que na altura que era uma utopia, quase me apetecia dizer uma “parvoíce humana”, mas é o sonho que tem que comandar a vida. É também possível que alguém, e devo aceitá-lo com toda a humildade, olhe para este meu gesto como um pecado de orgulho, de quem se considera o salvador da Igreja.
Mas nada mais falso, porque a primeira regra da minha vida, que e é mais um drama interior que regra, é procurar descobrir em cada momento qual o plano de Deus a meu respeito. E não é nada fácil discernir o que Deus quer de cada um de nós. De qualquer modo foi apenas por esta razão que na altura tomei a decisão da reforma.
Procurei, por isso, servir um pouco mais a Igreja quer em grupos de trabalhos quer sobretudo pela escrita e pela palavra. Nunca me preocupei em avaliar os frutos (embora sempre me procurasse por avaliar as minhas acções e palavras ), porque, como diz Jesus: “Um é o que semeia, outro o que colhe” (Jo 4,37).
Mas houve também uma outra regra a que nunca pude renunciar, por respeito por mim próprio mas também pela própria Igreja. Encontrei-a numa frase, creio que de Chesterton: “Quando entram na i(I)greja os católicos são convidados a tirar o chapéu mas não a tirar a cabeça”.
Se repararam nas minhas observações anteriores nunca pus em causa o “núcleo duro” das verdades essenciais da fé cristã. Apenas comentei, dando alguma fundamentação, aspectos secundários, muito deles meros frutos do tempo, de tempos passados e que hoje só atrapalham a missão essencial da Igreja que é testemunhar, de modo actualizado e credível, Jesus Cristo e os valores do Reino. Nisto "apenas" me sinto fiel às palavras do Concílio: “Enquanto Cristo, santo inocente e imaculado, não conheceu o pecado mas veio expiar os pecados do povo, a Igreja, contendo pecadores no seu próprio seio, simultaneamente santa e sempre necessitada de purificação, exercita continuamente a penitência e a renovação” (LG 8; o sublinhado é meu).
Mas não cheguei a dizer por que amo tanto a Igreja.
Pode ficar para amanhã.

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