divórcio ou casamento eterno?...

2008-08-04

Bispos (3)

Estas diferentes posições dos nossos Bispos não devem ser entendidas de um modo superficial e crítico “destrutivo” ou reaccionário como há sempre pessoas que gostam de os acusar os eles não dizem o que elas gostariam de ouvir, porque me parece que podemos encontrar subjacente a estas mudanças, pelo menos duas razões, que, à falta de melhores termos, chamaria sociológica e teológica.

Sociológica
Nestes tempos conturbados de mudanças profundas como o nosso há sempre várias grelhas de leituras da crise, das quais podia destacar duas extremas.
Poderemos olhar a actual crise como uma crise cultural, na qual forças ocultas ou abertas procuram pôr conscientemente em causa os valores tradicionais em geral, nomeadamente os cristãos. E, sem querer tomar qualquer posição valorativa, há situações onde parece que esta leitura se justifica plenamente; mas não em todas nem sequer na sua maioria.
Também podemos ler a actual crise como crise multicausal, que resulta de uma profunda, rápida e imparável aceleração da histórica, para a qual não se pode apontar culpados identificáveis e que não põe em causa apenas os valores cristãos, mas muitos outros, como a autoridade, as instituições, a política, os partidos, os sindicatos, etc., gerando uma organização social marcada pela desigualdade de oportunidades, por uma deficiente repartição de bens e serviços e pela falta de solidariedade.
Pessoalmente inclino-me muito mais para a segunda, mas admito que, tão legitimamente como eu, outros preferiam a primeira. E até haverá momentos históricos e situações concretas em que esta leitura seja mais realista que aquela.
Para responder a estas duas leituras, há obrigatoriamente duas opções pastorais diferentes:
1) dar prioridade à apresentação e defesa dos valores evangélicos – “recristianizar”, a palavra usada, parece-me infeliz – e, portanto, à formação sistemática dos principais valores cristãos de modo a poder propô-los e defendê-los pública e assumidamente “contra” os que os põem em causa, através de uma pastoral que chamaria de “apologética”, no bom sentido, mas que mesmo assim implica muitas vezes, para lá do diálogo sério, também o confronto e a falta ou até a recusa de colaboração;
2) conjugar esforços, com todos os homens e mulheres de boa vontade, em defesa de valores comuns como a dignidade da pessoa, a luta pela justiça e pelo desenvolvimento, a promoção de uma cultura da solidariedade, através de um diálogo e de uma colaboração séria e construtiva; seria então “uma pastoral de solidariedade”.
Usando os sub-títulos atrás referidos, poderia dizer que, quando se fala de “um Portugal cristão” teríamos uma pastoral mais de tipo apologético. Quando falamos de “construir um Portugal que os portugueses quiserem” falaríamos de uma pastoral de solidariedade.
Como já referi várias vezes, a Igreja, numa sociedade pluralista, não tem a única proposta de solução, mas apenas uma proposta entre muitas outras como o próprio Concílio, aliás na linha de papas anteriores, diz claramente: “A Igreja proíbe severamente obrigar quem quer que seja a abraçar a fé ou induzi-lo e atraí-lo com práticas importunas do mesmo modo que reclama com vigor o direito de ninguém ser afastado da fé por meio de vexações iníquas” (AdG 13).

Teológica
É evidente que, para que se realize a dita pastoral de solidariedade, é fundamental que os cristãos saibam quem são e o que são (identidade), saibam ler evangelicamente a realidade (leitura dos sinais dos tempos) e saibam o que devem testemunhar (missão).
E dado o profundo analfabetismo religioso da maior parte dos cristãos, especialmente perante estes três problemas fundamentais, é necessária e urgente a tal chamada pastoral apologética, onde a insistência se faça sobre os valores cristãos, a sua aprendizagem e aprofundamento e sobretudo a sua prática, privada e pública.
E os nossos Bispos têm disso profunda consciência: “A fragilidade do cristianismo provém, em grande parte, do analfabetismo religioso” (Instrução Pastoral “A formação cristã de base dos adultos” (6a): 19.Jul.1994).
E têm uma irrecusável responsabilidade de lhe dar resposta actualizada e adequada para que também os critãos possam juntar-se a todos os portugueses de boa vontade na construção de um Portugal que seja à medida de todos.

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