divórcio ou casamento eterno?...

2008-08-05

Comunidades eclesiais

O problema do analfabetismo religioso é grave, extremamente grave, diria eu. Mas antes de fazer a minha reflexão sobre ele, gostaria de, na sequência do comportamento dos nossos Bispos, falar também das comunidades e dos cristãos, até para que não fique a ideia de que a Igreja, como há ainda muita gente a pensá-lo, se esgota nos Bispos.

Gostaria de começar por recordar um episódio. Fora eu fazer uma das “conferências quaresmais” numa paróquia do interior e de vez em quando falava naturalmente da importância da comunidade em não deixar abandonados os leigos que assumiam compromissos sócio-políticos. No final, o pároco, meu velho amigo, perguntou-me: “Mas onde está a comunidade?”. A minha resposta foi imediata: “A tua, devias ser tu a saber onde ela está” Mas, claro, a pergunta era mais funda e eu procurei depois dar uma resposta menos irónica.
É o que vou aqui tentar fazer, destacando quatro aspectos principais.

Estação de serviço”
E começaria por dizer que as nossas comunidades cristãs, de um modo geral, continuam ainda muito a ser “estações de serviço”, onde uns vão “pedir os sacramentos”, outros mandar rezar uma missa pelos defuntos, a maioria junta-se para a missa dominical, outros não faltam à festa do padroeiro.
Portanto parecem-se muito com “estações de serviço”, onde o cliente paga para ser servido e, portanto e logicamente, se acha com direito a escolher até as datas que lhe convém para alguns desses serviços, como casamentos e baptizados.
As comunidades, apesar de alguma organização que todas têm, umas mais outras menos, são a maior parte das vezes, um arquipélago de “quintas”. Independentes umas das outras, cada quinta - equipa, grupo, serviço - faz a sua vida mais ou menos autonomamente da comunidade, ignoram o Conselho Pastoral, mesmo quando ele existe e nele tenham o seu representante. A concessão que fazem é admitir a autoridade, muitas vezes apenas teórica, do pároco, tendo muitas vezes presente aquele velho slogan: “Os párocos passam (mudam) e nós ficamos”.
Mas o que não são é comunidades centradas na eucaristia, definindo projectos comuns, que tenham em conta a maneira específica de evangelizar a sua zona geográfica.
O que é muito raro é serem manifestações sérias de comunhão (também voltarei a este tema tão rico quanto “estafado”)
É evidente que nunca se pode generalizar nestes casos. Mas há certamente algumas que planificam o seu ano ou triénio pastoral, mas mesmo aqui também, a maior parte funciona como uma “quinta” dentro da diocese. E de tal modo isto deve ser frequente que os nossos Bispos se acharam na obrigação de se queixar publicamente: “Tem sido observado nas assembleias plenárias da CEP que ficam muitas vezes letra mortas as resoluções e os propósitos colectivamente anunciados pelos Bispos" (Linhas de força de uma acção pastoral conjunta na Igreja em Portugal: 11.11.1993).
Mas quem sabe se não serão os Bispos os primeiros responsáveis, fazendo da sua Docese também uma "quinta" própria, onde os outtos Bispos nada têm que mandar!

Desvalorização da função real
As comunidades têm muita dificuldade em pôr em prática aquela recomendação sinodal da dimensão social e luta pela justiça, que já aqui referi: “A acção pela justiça e a participação na transformação do mundo aparecem-nos claramente como uma dimensão constitutiva da pregação do Evangelho, que o mesmo é dizer, da missão da Igreja em prol da redenção e da libertação do género humano de todas as situações de opressão (JM 6).
E têm dificuldade porque nem sequer a conhecem, pois ninguém lhes fala dela. E mesmo que falassem, certamente também nada mudaria pois a exigência e o compromisso são muito violentos para o nosso ritmo de cristãos que somos, e sem querer falatar à caridade a ninguém, demasiados soft e, até me apetecia dizer, demasiado amorfos. É que a expressão "dimensão constitutiva" significa claramente que não há autêntica evangelização sem a promoção da justiça e a transformação das estruturas sociais e vem mostrar que a história humana e a história da salvação não são duas histórias estanques, nem estranhas uma à outra, pois as promessas de "libertação e de salvação para todos cumpriram-se de uma vez para sempre na Páscoa de Cristo" (6).
Deixo os outros dois para amanhã.

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