divórcio ou casamento eterno?...

2008-08-11

A Igreja tem credibilidade?

Uma das frases que ontem citei do Cardeal patriarca dizia: “A Igreja, pela mudança global e pela mudança interna com critérios culturais profanos, foi perdendo espaço na sociedade como principal fonte inspiradora de valores da humanidade. Ao contrário, a sua palavra e doutrina é frequentemente vista com desconfiança ou mesmo rejeitada por uma sociedade que considera ter encontrado a sua autonomia na construção da verdade” (4).
A frase “A Igreja foi perdendo espaço na sociedade” poderia ser ambígua. Mas basta olhar o contexto para logo perceber que não se trata de espaço de poder, que aliás ele rejeita mais à frente: “A autenticidade do seu serviço à humanidade deve impor-se por si, e não por mera lógica de poder” (4).
Trata-se de uma a afirmação com a qual a esmagadora maioria dos cristãos estará de acordo, embora possamos reconhecer que esta falta de influência não significa, da parte de outras forças sociais, falta de respeito ou mesmo de consideração.
De qualquer modo, não podemos fugir à questão da falta de influência. Eu até iria mais longe e falaria de uma falta de credibilidade. Como disse, acho que se respeita a instituição eclesial, mas que importância se dá às suas palavras?
Na minha leitura eu enumeraria uma série de razões para tal situação.

Falaria de razões eclesiológicas, que têm muito a ver com o comportamento dos cristãos e até das suas atitudes frente à fé em que dizem acreditar. O próprio Concílio não deixa de o referir com alguma mágoa: “Pelo que os crentes podem ter tido parte não pequena na génese do ateísmo, na medida em que, pela negligência na educação da sua fé, ou por exposições falaciosas da doutrina, ou ainda pelas deficiências da sua vida religiosa, moral e social, se pode dizer que antes esconderam do que revelaram o autêntico rosto de Deus e da religião” (GS 19).

Destacaria também razões sociológicas, que estão relacionadas com as mudanças e os desafios que o mundo hoje coloca a todas as instituições e não só à Igreja. A dificuldade é que os problemas são geralmente tão novos e inesperados que deixam sem grande capacidade de resposta também a própria Igreja, de tal modo que hoje, por vezes, temos a sensação de que a Igreja está a dar respostas a perguntas que ninguém formulou. É um mundo que parece não precisar de Deus para nada, pois o homem tudo pode e tudo alcança. Retornando à Carta pastoral atrás citada: “A esse triunfalismo da razão, única fonte da verdade, chamou-se modernidade, o que levou à alteração da maneira de compreender e assumir a relação do homem com Deus. Este começou por ser combatido e negado, em nome da autonomia do homem e acabou por ser circunscrito a um espaço de inutilidade, porque não decisivamente interveniente na vida do homem e da sua história. Este Deus “inútil” daqueles que, mesmo admitindo que Ele existe, vivem como se não existisse, é um estádio da evolução cultural mais grave do que o ateísmo racional e militante” (6).

Finalmente apontaria razões teológicas, nomeadamente o conceito que os cristãos têm de evangelização hoje: como evangelizar o mundo moderno? Foi a pergunta que o Sínodo de 1974 colocou e a partir do qual, Paulo VI escreveu um dos seus melhores documentos: “Evangelho aos homens de hoje (Evangelii Nuntiandi)”. Para quem quiser acompanhar a evolução dos trabalhos poderá ler com enorme proveito o segundo volume das “Obras escolhidas” de D. José da Cruz Policarpo, editado pela Universidade Católica. Apesar das suas mais de 300 páginas é indispensável para perceber a própria evolução dos conceitos, apoiada em muitas das intervenções dos bispos participantes.

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