Tempos de mudança
Sempre houve mudança e a todos os níveis: físico, social, temporal. Tudo muda e não só os seres vivos. Basta-nos olhar uma qualquer paisagem que de uma estação do ano para outra muda, ao menos de fisionomia. A evolução em muitos milhões de anos deu origem a milhares de géneros e espécies de seres vivos e desfez e construiu montanhas.
Portanto, sempre houve mudança. O seu ritmo é que era muito lento, às vezes tão lento que nem se dava por nada. Inicialmente a história mudava devagarinho e demorou tempos a acelerar. Dizem os historiadores que no início da era cristã, a população mundial era de 300 milhões de pessoas; em 1500, era apenas de 400 milhões; em 1800 duplicara e bastou um século para duplicar de novo. Portanto em 1900, éramos cerca de 1,5 mil milhões. Hoje, passado um século, quadruplicámos e já ultrapassámos os 6 mil milhões de habitantes.
É certo que houve épocas em que as mudanças eram mal vistas. Os valores eram eternos. Os hábitos de vida deviam manter-se. A estratificação social era obrigatória. Nestas circunstâncias tudo o que fosse mudança era mau e devia ser combatido. Mas nada trava a história.
Portanto a tendência da mudança é para acelerar, como vimos com o exemplo da população. O que há de novo hoje é que não se trata apenas de uma aceleração quantitativa: ela é realmente cada vez mais rápida, mas também cada vez mais profunda, cada vez mais complexa e cada vez mais imprevisível. É mais profunda porque vai mais à raiz dos problemas. É mais complexa porque depende de um número de factores cada vez maior. E é cada vez mais imprevisível por causa de todas as características anteriores e porque ninguém dispõe de todos os dados que a influenciam.
Por isso mesmo, as nossas próprias decisões hoje têm sempre um elemento de imprevisibilidade que tem de ir sendo rectificado por sucessivas decisões futuras.
Seja como seja, a mudança traz sempre inovação e criação de padrões diferentes, que não são necessariamente desvios ou disfunções morais ou sociais, mas formas diferentes de viver a realidade.
Hoje cultivamos a mudança permanente, de tal modo que parece que só permanece o que muda. Daqui decorrem algumas consequências que não podem ser ignoradas numa leitura séria da realidade. Já não se trata só de pôr em causa instituições, valores ou hábitos de vida; há também, por exemplo, a dificuldade em manter compromissos para toda a vida.
Assim sendo, este estado permanente de mudança exige uma atenção constante e obriga a encontrar soluções e fórmulas novas, recusando quer a demissão acrítica, que consiste numa simples adaptação ao que apareça de novo, quer a rejeição emocional, que se resuma a uma simples recusa absoluta de qualquer mudança, só porque é novidade.
Esta é a sociedade em que somos chamados a viver.
Uma sociedade em contínua mudança, onde com facilidade surgem viragens inesperadas e repentinas que ninguém pode controlar. De repente sentimo-nos impotentes não só porque não sabemos dominar a mudança, mas até e sobretudo porque não a sabemos prever. E cada novo estado coloca novos problemas e novas dificuldades, mas também e sobretudo novas oportunidades. E nós cometemos o erro de ser muito mais sensíveis àqueles que a estas.
Também a Igreja vive nesta sociedade e tem de estar preparada ou preparar-se convenientemente para dar as suas respostas como contributo para um mundo perdido no meio de tanta confusão.
Daí a insistência do Concílio na teologia dos sinais dos tempos: “Para cumprir esta tarefa, é dever da Igreja, em todos os momentos, perscrutar os sinais dos tempos e interpretá-los à luz do Evangelho, de forma a poder responder, de modo adaptado a cada geração, às interrogações permanentes dos homens sobre o sentido da vida presente e futura e sobre as suas mútuas relações. Torna-se, então necessário conhecer e compreender este mundo em que vivemos, as suas esperanças, as suas aspirações, o seu carácter muitas vezes dramático” (GS 4).
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