divórcio ou casamento eterno?...

2008-12-09

Recessão cívica

Portugal corre o sério risco de entrar em “recessão técnica” dizem os sabedores das economias.
Não me admira muito, pois a nossa capacidade de trabalho é certamente ímpar na Europa. Tenho uma pessoa amiga que foi nomeada para uma comissão “governamental” em Lisboa e logo na primeira reunião pediu para que as reuniões fossem à sexta-feira, o dia que tinha mais livre na sua actividade. Foi-lhe logo dito por vários participantes que à sexta-feira não era possível, pois as pessoas estavam já a preparar-se para o fim-de-semana. Não percebeu muito bem o que seria aquela preparação, mas mais tarde veio a perceber que à sexta-feira não se trabalha. Não quer dizer que não se apareça no emprego mas não é dia de trabalhar.
Um amigo que trabalha numa empresa privada ligada a uma qualquer multinacional foi informado que os negócios em Lisboa têm de ser acertados até quinta-feira pois à sexta-feira ninguém está disponível para grandes esforços. Pensou que se tratava de uma piada a alentejana". Mas um dia em que teve necessidade de ir resolver um problema urgente surgido numa quinta-feira, telefonou para a sede em Lisboa a informar que ia lá no dia seguinte. Foi logo demovido pois a sexta-feira era um dia complicado e não seria fácil tratar do assunto! Afinal, concluiu ele, não era piada aquela dos negócios à sexta em Lisboa.
Na última sexta-feira quando estava agendada, na Assembleia da República, a votação para que a avaliação dos professores fosse suspensa, na hora da votação, faltavam 13 deputados do PS e 35 da oposição, 30 dos quais do PSD. Mas o irónico, ou caricato se quiserem, da questão é que, sendo previsível que dois ou três do PS votassem a favor da proposta contra a avaliação, bastaria que toda a oposição estivesse presente para que a proposta passasse e deixasse a ministra entalada. Fiquei sem saber se os faltantes são pela avaliação, são contra a luta dos professores ou são amantes de umas mini-férias prolongadas.
Mas esta situação não é acidental. Não contando com as sessões deste mês, o DN fez as contas e verificou que nos três dias de plenário, desde o início do ano se verificaram as seguintes faltas: à sexta-feira, 640; à quinta-feira, o dia de maior assiduidade, 341 e à quarta-feira, 389. É certo que maioria das faltas é justificada, mas não deixa de merecer a nossa atenção.
Até porque, mais sério e preocupante é a proposta de um vice-presidente da Assembleia da República que, perante esta realidade faltista, propõe que as votações passem a fazer-se à quinta-feira! Para grandes males, grandes remédios, dir-se-á! Mas quando é a própria Assembleia a “justificar” e a estimular esta situação, o problema assume foros de especial gravidade. Não basta que o dito vice-presidente se desculpe dizendo que, embora não seja politicamente correcta esta proposta, devemos ser realistas.
Se a moda pega – e com estes exemplos a vir de cima – não há economia que resista. E a recessão cívica vai ser cada vez mais acentuada.
Nem precisamos de uma grande crise mundial!

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