divórcio ou casamento eterno?...

2008-12-08

Maria, nossa irmã

Maria é outro estilo de profeta.
À tronitroância (aos puristas da língua peço desculpa por este neologismo, mas precisava dele para melhor explicitar a violência com que o Profeta procura despertar as consciências abertas: qualquer coisa como o ribombar dos trovões) dos Profetas, ela responde com o anonimato de uma vida simples e quase ignorada.
Também ela acredita no mesmo Deus da justiça: “O Todo poderoso… manifestou o poder do seu braço e dispersou os soberbos. Derrubou os poderosos dos seus tronos e exaltou os humildes. Aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias” (Lc 1,51-53).
Também ela renunciou aos seus projectos de vida para aceitar a missão que Deus lhe indicava, porque tinha o seu coração livre para poder enchâ-lo com a vontade de Deus.
Ela não andou a pregar uma doutrina de aldeia em aldeia, mas quando soube que a prima Isabel precisava dela não hesitou em meter-se a caminho e ir a sua casa. Atravessou muitos quilómetros por caminhos difíceis, por florestas onde atrás de cada árvore poderia estar um criminoso. Mas ela foi, arriscando a vida, porque essa era a vontade de Deus: cuidar dos que de nós precisam.
Em Caná, não receou ser repreendida por Jesus (“Mulher, ainda não é chegada a minha hora!”: Jo 2,4) mas intercede pelos noivos que estão a ficar sem vinha na sua festa e até avisa os criados para estarem atentos.
Maria criou a criança Jesus com o mesmo amor e desvelo anónimo com que as mães e pais cuidam ou deviam cuidar dos seus filhos e nisso é nosso modelo. Por isso eu continuo a celebrar o Dia da Mãe neste dia: não por saudosismo doentio, mas porque vejo em Maria um modelo de mãe.
Maria sofreu com os que lhe vinham dizer que o filho devia estar maluqinho mas ouvia as palavras desse Filho e meditava-as no silêncio do seu coração.
Maria não ficou com ciúmes quando Jesus respondeu aos que anunciavam ali a presença da sua família: “Indicando com a mão os discípulos acrescentou: Aí estão a minha mãe os meus irmãos; pois todo o que fizer a vontade de meu Pai que está no Céu, esse é que é meu irmão, minha irmã e minha mãe” (Mt 12,49). Ela percebeu que para lá dos laços sanguíneos existem também os laços da fé, da confiança num Deus que quer salvar toda a humanidade, que quer que todos formem uma única família e que quer que todos sejam felizes já aqui.
Muita teologia foi feita sobre a Virgem Santíssima, muitas orações e festas foram instituídas a Nossa Senhora, até dogmas foram proclamados sobre a sua condição excepcional. Ao longo dos séculos o seu Filho, o Salvador, foi quase esquecido perante um culto, a raiar a divinização, a Nossa Senhora. Duvido (!?) que fosse essa a sua vontade!
Por isso, eu gosto mais desta Maria, anónima, silenciosa, pacata, que soube cumprir a vontade de Deus na vida de casa, no cuidado dos mais necessitados, no silêncio do seu coração. Há muitos que acham que este modelo de Maria é um modelo alienante de mulher, de submissão ao marido, de falta de intervenção cívica.
É uma leitura que não corresponde aos relatos evangélicos. Apesar de grávida e da dificuldade dos caminhos ela foi também recensear-se a Belém; quando Deus lhe propõe ser a mãe do salvador, ela, que já era noiva de José, não foi pedir-lhe nenhum conselho nem o seu consentimento; quando decidiu ajudar a sua prima Isabel não pediu a protecção do marido nem certamente a sua autorização, que ele, por mero bom senso, teria possivelmente recusado, tais eram os perigos a que Maria se ia expor.
Será esta uma mulher alienada, sem espírito cívico e sem capacidade de decisão?!

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