divórcio ou casamento eterno?...

2008-12-07

Um homem chamado João

Com este segundo domingo do Advento aparece João Baptista.
Uns descrevem-no “teologicamente”: “Apareceu um homem enviado por Deus que se chamava João. Este vinha como testemunha para dar testemunho da Luz e todos acreditarem por meio dele. Ele não era a Luz, mas vinha para dar testemunho da Luz” (Jo 1,6).
Outros fisicamente: “Trazia um traje de pelo de camelo e um cinto de couro; alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre” (Mt 3,4).
Mas todos o apresentam como profeta, como o fez o próprio Jesus: “Que fostes ver ao deserto? Uma cana agitada pelo vento? Um homem vestido de roupas luxuosas? Um profeta? Sim. Eu vo--lo digo e mais que um profeta” (Mt 11,8-9).
O profeta está ao serviço da verdade última da pessoa, da sua dignidade inviolável, do seu mistério sempre por descobrir. O profeta não fala de si nem das suas opiniões próprias, mas proclama, nem que seja no deserto da incompreensão, as palavras de salvação que Aquele que o enviou. O profeta vive uma situação muito complicada não só porque nem sempre pode dizer o que quer mas também porque está chamado a ser uma espécie de consciência crítica, sempre pronto, em quaisquer circunstâncias, sem recear as consequências, a apontar o dedo a toda a violação da justiça de que ele servidor. Perante as queixas do profeta Jeremias, o Senhor é radical: “Não digas ‘Sou um jovem’, pois irás aonde Eu te enviar e dirás tudo o que eu te mandar. Não terás medo diante deles, pois Eu estou contigo para te livrar” (Jer 1,7-8). O pior é que o “Eu estou contigo” nem sempre é evidente e nem sempre corresponde ao que nós esperamos, porque a lógica do Senhor é muito diferente da nossa. São precisos os olhos da fé; não basta a confiança humana.
Mas o profeta sabe disso. E João Baptista assumiu em plenitude essa sua missão. Falou “sem papas na língua”. Condenou as hipocrisias e as falsas seguranças, que o poder ou o estatuto social aparentemente dão, com palavras violentas (“Raça de víboras” pensais que estais salvos só porque sois filhos de Abraão: cf Lc 3,7-8) que lembram aquelas outras com que Amós classificava as “senhoras da alta sociedade”: “Vacas de Basan… vós que oprimis os fracos e maltratais os pobres” (Am 4,1)
Não hesita em denunciar o adultério de Herodes sabendo, ou pelo menos suspeitando, que isso lhe custaria a morte: a sua cabeça foi realmente oferecida numa bandeja de prata à bailarina com vocação para odalisca (Mt 14,8).
Este é o desafio de João Baptista nos lança nesta segunda semana do Advento: ser fiel à missão que o Senhor destinou a cada um; renunciar aos projectos próprios e até à sua vida para se manter fiel a essa missão; não ter medo de denunciar as injustiças, mesmo que isso acarrete consequências dolorosas; e sermos coerentes até ao fim.
Numa sociedade, como a nossa, onde muita coisa parece andar à deriva, é uma ocasião propícia para os profetas não só para despertar as consciências perante as situações injustas, mas também para mobilizar vontades no sentido de construir um mundo mais justo, mais solidário e mais humano. Mas onde estão os profetas? E quem os ouve?
Infelizmente a própria Igreja dessorou a sua dimensão profética, resumindo-a a algumas palavras dos seus responsáveis e a uma catequese quase inócua, mas sobretudo retirando-a do estilo de vida das suas comunidades e dos cristãos em geral!

0 Comentários:

Enviar um comentário

<< Home