Espadas em arados
Isaías é hoje recordado como aquela célebre passagem: “Vinde, subamos à montanha do Senhor. Ele nos ensinará os seus caminhos e nós andaremos pelas suas veredas. Ele julgará as nações e dará as suas leis a muitos povos, os quais transformarão as suas espadas em relhas de arados e as suas lanças em foices. Uma nação não levantará a espada contra outra e não se adestrarão mais para a guerra” (Is 2,3-4).
O Deus, cuja chegada estamos a comemorar, é sobretudo um Deus preocupado com a paz e a solidariedade entre todos, pessoas mas também os povos. As espadas devem converter-se em arados e as lanças em foices. Para um povo rural, o arado e a foice eram dois instrumentos fundamentais, sem os quais a sua vida tornar-se-ia praticamente impossível.
Hoje infelizmente mantém-se esta mesma necessidade: as guerras continuam, porque as espadas são em muito maior número que os arados.
Mas o lema deste Advento “Vigiai!” obriga-nos a tentar discernir quais são as espadas que hoje devemos converter em arados, numa sociedade que já não é rural, mas urbana; que já não é solidária mas anónima; que já não é uma sociedade ética, onde todos se conhecem como amigos, mas uma sociedade jurídica, onde todos lutam prioritariamente e por vezes a qualquer preço pelos seus direitos, esquecendo os seus deveres para com os outros e para com a sociedade que os acolhe e protege.
Particularmente hoje, Dia Mundial contra a Sida, todos sabemos as dificuldades em converter as espadas dos lucros fabulosos das indústrias farmacêuticas em arados dos medicamentos a preços acessíveis aos milhões de seropositivos que vivem nos países pobres.
“Ele nos ensinará os seus caminhos, e nós andaremos pelas suas veredas”. Se levarmos a sério estes caminhos, poderemos cantar como o salmista “Que alegria, quando me disseram: Vamos para a casa do Senhor!”, o Senhor que julgará todas as nações e dará as suas leis a muitos povos.
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