divórcio ou casamento eterno?...

2009-09-30

CinV (30) Progresso e Liberdade (nº 17)

Como vimos o progresso é, na sua essência, uma vocação. “Esta visão do desenvolvimento … motiva todas as reflexões de Paulo VI sobre a liberdade, a verdade e a caridade no desenvolvimento” (16).
Em primeiro lugar, qualquer vocação implica sempre a responsabilidade pessoal: “A vocação é um apelo que exige resposta livre e responsável. O desenvolvimento humano integral supõe a liberdade responsável da pessoa e dos povos: nenhuma estrutura pode garantir tal desenvolvimento, prescindindo e sobrepondo-se à responsabilidade humana”.
A responsabilidade humana é analisada neste nº 17 da encíclica em três âmbitos.

Embora indispensáveis, as estruturas da vida social nunca poderão deixar de lado a responsabilidade de cada um: “Os «messianismos fascinantes, mas construtores de ilusões» (PP 11) fundam sempre as próprias propostas na negação da dimensão transcendente do desenvolvimento, seguros de o terem inteiramente à sua disposição. Esta falsa segurança converte-se em fraqueza, porque implica a sujeição do homem, reduzido à categoria de meio para o desenvolvimento, enquanto a humildade de quem acolhe uma vocação se transforma em verdadeira autonomia, porque torna a pessoa livre”. A história passada e sobretudo recente está cheia de exemplos desta redução da pessoa à mera condição de meio. E os resultados foram sempre gravosos para as pessoas, as sociedades e os povos e, no fundo, para a própria humanidade. Já os filósofos mais antigos colocavam o “homem como medida de todas as coisas”. A modernidade enalteceu até ao limite este primado, esquecendo que nada neste mundo é absoluto. A própria Igreja o proclamou no Concílio: “Com efeito, a pessoa humana uma vez que por sua natureza, necessita absolutamente da vida social, é e deve ser o princípio, o sujeito e o fim de todas as instituições sociais” (GS 25). Aliás, outra coisa não seria de esperar de quem tem pôr missão testemunhar a Pessoa e a mensagem de Jesus de Nazaré, que confrontou a sociedade com a escandalosa afirmação de que “o homem não foi feito para o sábado, mas o sábado para o homem” (Mc 2, 27). E o respeito pelo sábado judaico era um crime religioso imperdoável.
João Paulo II desenvolveu detalhadamente este problema das estruturas e a sua ambiguidade, que as transforma em “mecanismos perversos”. Mesmo as melhores iniciativas se podem perverter-se e acabar por produzir um resultado totalmente diferente do pretendido. Daí que estas iniciativas se possam associar ao pecado social. Mas deixaria esta reflexão para o próximo comentário, para não quebrar o ritmo da reflexão de Bento XVI.

A pessoa, seja qual for o contexto, tem de ser sempre a protagonista. Nós somos os agentes e os sujeitos da história. E é porque, por vezes, nos esquecermos disso, que os acontecimentos muitas vezes assumem proporções desumanas e nos empurram para caminhos ínvios. Paulo VI, admitindo embora obstáculos e condicionalismos, não deixava de insistir neste protagonismo: “Cada um, sejam quais forem as influências que sobre ele se exerçam, permanece o artífice principal do seu êxito ou do seu fracasso” (PP 15).

Finalmente, Bento XVI atribui as situações de subdesenvolvimento à responsabilidade das pessoas. Mas atenção não se refere apenas às pessoas e aos povos pobres, mas também aos ricos. É hoje evidente que o subdesenvolvimento de uns é fundamentalmente o reverso do desenvolvimento de outros. Os pobres têm também as suas responsabilidades, mas talvez a maior causa seja a má organização social, tanto a nível nacional como internacional: “Esta liberdade diz respeito não só ao desenvolvimento que usufruímos, mas também às situações de subdesenvolvimento, que não são fruto do acaso nem de uma necessidade histórica, mas dependem da responsabilidade humana. É por isso que «os povos da fome se dirigem hoje, de modo dramático, aos povos da opulência». Também isto é vocação, um apelo que homens livres dirigem a homens livres em ordem a uma assunção comum de responsabilidade”.

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