divórcio ou casamento eterno?...

2009-10-29

BeautifulPeople.com

Este site tem, como grande missão (!?) “criar uma comunidade mundial perfeita de beleza”, uma espécie de gueto... mas para lind@s, uma favela de bonit@s no meio da fealdade.
Vivemos hoje o culto da beleza: quem é bel@ tem muitas portas abertas emai ainda se souber usar os seus atributos. Este culto da beleza insere-se num contexto mais lato do culto do corpo.
Felizmente, que o corpo ganhou foros de cidadania. Claro que, como manda o pêndulo da história, agora caiu-se no exagero. Dados de 2003, apontavam para gastos, só em cosméticos, de 180 mil milhões de dólares; não contando com cirurgias estéticas, etc..
Mas era indispensável reabilitar o corpo. Sobretudo perante a desconsideração e até humilhação a que foi submetido pela Igreja católica e não só.
A antropologia semito-bíblica do A.T. é a unicidade da pessoa, isto é, mesmo quando se fala de um órgão ou membro, estes não se significam a si mesmos mas sim a concepção unitária e sintética da pessoa como se pode ver por estes dois entre milhares de paralelismos sintéticos da poesia bíblica: alma e pescoço: (“ darão vida à tua alma / e beleza ao teu pescoço”: Prov 3,23); “eu” e “meus ossos” e “minha alma” e “eu” (Sal 6,3-5).
Com a tradução dos LXX passou-se a uma antropologia dicotómica (corpo e alma) ou tricotómica (corpo, alma e espírito) que escancarou as portas à antropologia grega dualista. Longos séculos passaram até ao Concílio escrever: “O homem, ser uno, composto de corpo e alma” (GS 14)
Neste arco histórico, muita coisa aconteceu. O dualismo grego apresenta o corpo como prisão da alma. A mais simples e estética explicação do mito da caverna é certamente a do Adamastor:
Abraçados as almas soltaram
Da formosa e misérrima prisão
(Lusíadas, V, 48).
Com estas “más” influências (platónicas, estóicas, maniqueias), a Igreja foi denegrindo o corpo até o considerar um dos três inimigos da alma. E com a diabolização do corpo, vieram todos os traumas e mal-entendidos com o sexo, o prazer e quejandos. Claro que houve excepções como a de Tertuliano: Caro cardo salutis (a carne (o corpo) é a charneira da salvação). Mas o próprio prazer sexual (dentro do casamento, claro!) teve de esperar por Pio XII para ser legitimado.

Há uns anos atrás, aceitei um convite para animar um curso de Verão com freiras. Pensei que fosse mesmo “um curso de Verão” e com freiras “normais”. Quando lá cheguei deparei-me com 14 freiras, mas todas elas directoras de instituições religiosas de… todo o mundo. Imaginarão como fiquei…
Recordo isto, não por razões curriculares, mas porque de todo esse trabalho, extremamente interessante, pelo menos para mim, o que me ficou foi uma pergunta posta por alguém que vinha da Índia. O seu problema era que as noviças gostavam de se apresentar bem, de serem ou parecerem lindas. E pediu a minha opinião: “Olhe, Irmã, o que Deus quer é que todos sejamos felizes, bonitos na alma mas também no corpo. E, por que razão deviam as noivas do Senhor não ser bonitas? Será que as feias e as que não querem cuidar do seu corpo são, por isso, mais amadas pelo seu Amado? Deixe-as ser bonitas. Isso não é pecado. Pode até ser uma virtude!”. Com um suspiro de alívio, agradeceu-me: “Não imagina o peso que me tirou de cima da alma!".
Quantos teólogos e moralistas me teriam crucificado por causa desta resposta, não sei. Mas o que sei é que o nosso Deus é Amor, Beleza, Alegria, Paz. E as suas criaturas também o devem ser, mesmo as ditas “consagradas”. Não acham que tenho razão!?

Felizmente hoje já se vai falando de uma “teologia do corpo”.

2 Comentários:

Blogger JR disse...

Olá Zé Dias, obrigada pela sua reflexão.
Mas... o que significa: "Com a tradução dos LXX"?

29/10/09 17:58

 
Blogger Zé Dias disse...

Quando se fala dos Setenta (LXX)referimo-nos a uma das mais importantes traduções da Bíblia heraica para o grego. O nome tem origem na lenda de que teriam sido 72 judeus que a traduziram em 72 dias. Trata-se de uma tradução destinada aos Judeus na diáspora, posivelmente feita nos séculos III e II a. C.. Nem sempre é muito fiel ao espírito original, abusando de antropomorfismos e tonalidades messiânicas. Muitas citações do AT feitas no NT são desta tradução.
Espero que esta explicação, apesar de muito simples, seja suficiente para responder à sua dúvida.
Um abraço

29/10/09 23:58

 

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