divórcio ou casamento eterno?...

2009-10-28

CinV (38) Crise alavanca do Desenvolvimento? (nº 21)

Neste capítulo II, Bento XVI utiliza o método das comparações: antes, no tempo de Paulo VI, era “assim”; agora é diferente. Destaca as diferenças e procura apontar algumas pistas para a solução dos novos problemas.
Começa por repetir uma ideia central do pensamento social da Igreja, a de que o desenvolvimento autêntico não pode ser apenas económico: “Isto significava, do ponto de vista económico, a sua (dos povos) participação activa e em condições de igualdade no processo económico internacional; do ponto de vista social, a sua evolução para sociedades instruídas e solidárias; do ponto de vista político, a consolidação de regimes democráticos capazes de assegurar a liberdade e a paz”.
E explicita com uma observação sobre o lucro: “O lucro é útil se, como meio, for orientado para um fim que lhe indique o sentido e o modo como o produzir e utilizar. (Contudo) o objectivo exclusivo de lucro, quando mal produzido e sem ter como fim último o bem comum, arrisca-se a destruir riqueza e criar pobreza”. Já João Paulo II chamara a atenção para a interpretação errada sobre o lucro: “A Igreja reconhece a justa função do lucro, como indicador do bom funcionamento da empresa (…) Todavia o lucro não é o único indicador das condições da empresa. Pode acontecer que a contabilidade esteja em ordem e simultaneamente os homens, que constituem o património mais precioso da empresa, sejam humilhados e ofendidos na sua dignidade” (CA 35).
Como todas as realidades humanas também o desenvolvimento é uma realidade ambígua:
- por um lado, arrancou milhões de pessoas da fome e permitiu a muitos povos tornarem-se agentes efectivos e eficazes da política internacional;
- por outro, “foi e continua a ser afectado por anomalias e problemas dramáticos, evidenciados ainda mais pela actual situação de crise”: os maus usos da tecnologia e da ciência; a injustiça em muitas relações internacionais, os efeitos dramáticos sobre a economia real de uma actividade financeira mal utilizada e maioritariamente especulativa; os crescentes e mal acompanhados fluxos migratórios; a exploração descontrolada dos recursos da terra com a consequente degradação ambiental.

Estas e outras anomalias estão a ser agudizadas por uma das maiores crises das últimas décadas, o que nos induz, “hoje a reflectir sobre as medidas necessárias para dar solução a problemas que são não apenas novos relativamente aos enfrentados pelo Papa Paulo VI, mas também e sobretudo com impacto decisivo no bem presente e futuro da humanidade”.
Esta crise surge num tempo em que há uma maior interdependência entre os povos e, portanto, obriga a uma séria articulação e colaboração entre todos, porque a crise não é só de alguns, mas atinge todos, embora de modo e intensidade diferentes: “Os aspectos da crise e das suas soluções bem como de um possível novo desenvolvimento futuro estão cada vez mais interdependentes, implicam-se reciprocamente, requerem novos esforços de enquadramento global e uma nova síntese humanista”.
Contudo não podemos olhar a crise apenas como um desastre ou uma fatalidade, mas sobretudo como um tempo de mudança e de reconversão de hábitos, costumes, mecanismos e instituições, tornando-nos mais preocupados por todas as pessoas e todos os povos e não apenas por alguns. É uma janela de oportunidades que não devemos deixar fechar. É mais uma oportunidade (kairós)para nos assumirmos como membros de uma única família com iguais direitos e deveres e com iguais responsabilidades por um futuro que ou é comum ou não será. É tempo de praticar a esperança e a confiança e de recusar o pessimismo, o desânimo e o fatalismo. Porque o futuro será o que nós quisermos: “A complexidade e gravidade da situação económica actual preocupa-nos, com toda a justiça, mas devemos assumir com realismo, confiança e esperança as novas responsabilidades a que nos chama o cenário de um mundo que tem necessidade duma renovação cultural profunda e da redescoberta de valores fundamentais para construir sobre eles um futuro melhor. A crise obriga-nos a projectar de novo o nosso caminho, a impor-nos regras novas e encontrar novas formas de empenhamento, a apostar em experiências positivas e rejeitar as negativas. Assim, a crise torna-se ocasião de discernimento e elaboração de nova planificação. Com esta chave, feita mais de confiança que resignação, convém enfrentar as dificuldades da hora actual”.

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