divórcio ou casamento eterno?...

2009-10-13

Convites a Bento XVI e a Obama

Causou alguma polémica e dissonância o convite feito ao presidente Obama para proferir uma conferência na Universidade de Notre Dame (Indiana, EUA).
Enquanto o cardeal Cottier, ex-teólogo da Casa Pontifícia, se mostrou publicamente favorável, o arcebispo de Denver, D. Chaput, considera esta decisão “grave”, porque “num momento em que os bispos americanos de forma institucional já haviam expressado uma grande preocupação com as políticas abortistas da nova administração, não só Notre Dame fez do presidente o centro de seus actos de graduação, mas também lhe outorgou um Doutorado honoris causa, apesar dos seus preocupantes pontos de vista sobre o direito ao aborto e a questões sociais relacionadas com ele”.
Não vou discutir concretamente as “políticas abortistas” de Obama. Mas ao ignorar toda a sua preocupação pelos mais pobres, nomeadamente a grande batalha que teve de travar por um sistema de saúde para todos, a sua preocupação por lutar pela paz procurando quebrar espirais de violência, estabelecer pontes, fomentar decisões partilhadas, respeitar os povos, o arcebispo Chaput atira isto tudo para o cesto dos papéis, como se Obama devesse obedecer às suas normas disciplinares.
Gostaria de saber se D. Chaput achou bem que Bento XVI fosse proibido, por causa de meia dúzia de “chaputianos” de outra cor, de fazer a lição inaugural numa Universidade italiana para que tinha sido convidado.
E já agora o que pensa ele da recente suspensão, pelo Partido dos Trabalhadores brasileiro, de dois deputados pelo facto de serem contrários à "legalização do aborto".
Juntei estes três factos porque eles são sintomas das dificuldades que ainda existem no diálogo da Igreja com a(s) sociedade(s).
É dever e missão indeclináveis da Igreja proclamar, com convicção (eu até diria, sobretudo, com sedução) e respeito pelos outros, a maravilhosa mensagem libertadora de Jesus Cristo que nem sempre ressalta das suas palavras e gestos. Contudo, não pode considerar-se única, nem o único movimento legítimo de opinião, nem a única responsável pela moral pública, nem sobretudo a única detentora da verdade. Tem de perceber que a sua influência é a do testemunho, a do amor mesmo e sobretudo aos que não concordam connosco, a permanente atenção às linguagens de cada geração, procurando traduzir para os nossos dias e para as mentalidades de hoje as palavras do Evangelho, as únicas que são palavras de vida eterna. Esgotar-se na repetição de condenações (com vão longe as palavras e as atitudes de João XXIII que preferia o remédio da misericórdia!), numa pastoral do medo (que falta de fé no Espírito Santo!?), no apontar de pecados (Deus olha-nos não como pecadores mas como sofredores, necessitados de libertação, como tão bem mostra a parábola do Filho pródigo) deixa a Igreja muito distante da misericórdia, do amor e do perdão permanentes de um Deus que é chamada a testemunhar e a proclamar.
Por isso, não conseguimos centrar-nos no essencial e vamo-nos deixando cair na armadilha dos “temas fracturantes” sem uma palavra inovadora e esclarecedora preferindo a repetição de argumentos anacrónicos, desincarnados, que nada dizem aos homens e mulheres de hoje.
Perdemos a capacidade criativa, profética e sedutora. E, assim, as nossas Igrejas (as de pedra e as comunidades) vão sendo abandonadas pelos desiludidos, sem respostas, amorosas, convincentes e repassadas de misericórdia, sobre os grandes problemas que os atormentam e afectam sobre a vida presente e o futuro que se apresenta tão nebuloso.

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