divórcio ou casamento eterno?...

2009-10-25

CinV (37) Urgência na actuação (nº 20)

A fechar este I capítulo, Bento XVI recorda a urgência de fazer mudanças profundas: “A Populorum progressio sublinha repetidamente a urgência das reformas, pedindo para que, à vista dos grandes problemas da injustiça no desenvolvimento dos povos, se actue com coragem e sem demora”. Esta era efectivamente uma das grandes preocupações de Paulo VI, que várias vezes fala de urgência:
- “Este ensinamento é grave e a sua aplicação urgente. Os povos da fome dirigem-se hoje, de modo dramático, aos povos da opulência. A Igreja estremece perante este grito de angústia e convida cada um a responder com amor ao apelo do seu irmão” (3);
- “Diante da amplitude e urgência da obra a realizar, os meios herdados do passado, apesar de insuficientes, não deixam contudo de ser necessários” (7);
- “Todos os outros direitos, quaisquer que sejam, incluindo os de propriedade e de comércio livre, estão-lhe subordinados (ao destino universal dos bens): não devem portanto impedir, mas, pelo contrário, facilitar a sua realização; e é um dever social grave e urgente conduzi-los à sua finalidade primeira” (22);
- “Urge começar: são muitos os homens que sofrem, e aumenta a distância que separa o progresso de uns da estagnação e, até mesmo, do retrocesso de outros” (29);
- “A situação actual deve ser enfrentada corajosamente, assim como devem ser combatidas e vencidas as injustiças que ela comporta. O desenvolvimento exige transformações audaciosas, profundamente inovadoras. Devem empreender-se, sem demora, reformas urgentes” (32);
- “Não se trata apenas de vencer a fome, nem tampouco de afastar a pobreza. O combate contra a miséria, embora urgente e necessário, não é suficiente. Trata-se de construir um mundo em que todos os homens, sem excepção de raça, religião ou nacionalidade, possam viver uma vida plenamente humana, livre de servidões que lhe vêm dos homens e de uma natureza mal domada; um mundo em que a liberdade não seja uma palavra vã e em que o pobre Lázaro possa sentar-se à mesa do rico” (47);
- “Quando tantos povos têm fome, tantos lares vivem na miséria, tantos homens permanecem mergulhados na ignorância, tantas escolas, hospitais e habitações, dignas deste nome, ficam por construir, torna-se um escândalo intolerável qualquer esbanjamento público ou privado, qualquer gasto de ostentação nacional ou pessoal, qualquer recurso exagerado aos armamentos. Sentimo-nos na obrigação de o denunciar. Dignem-se ouvir-nos os responsáveis, antes que se torne demasiado tarde” (53);
- “Neste caminhar, todos somos solidários. A todos, quisemos nós lembrar a amplitude do drama e a urgência da obra que se pretende realizar. Soou a hora da acção: estão em jogo a sobrevivência de tantas crianças inocentes, o acesso a uma condição humana de tantas famílias infelizes, a paz do mundo e o futuro da civilização. Que todos os homens e todos os povos assumam as suas responsabilidades” (80).

Bento XVI destaca dois aspectos: “A urgência não está inscrita só nas coisas, não deriva apenas da rápida sucessão dos acontecimentos e dos problemas, mas também do que está em jogo: a realização de uma autêntica fraternidade. A relevância deste objectivo é tal que exige a nossa disponibilidade para o compreendermos profundamente e nos mobilizarmo concretamente, com o «coração», a fim de fazer avançar os actuais processos económicos e sociais para metas plenamente humanas”.
É realmente um problema de “coração”, de vontade, de fraternidade. Se quisermos, podemos, como reconhece a própria ONU: “A erradicação global da pobreza é mais que um imperativo moral e um compromisso da solidariedade humana. É uma possibilidade prática. Chegou a altura de erradicar os piores aspectos da pobreza humana dentro de uma ou duas décadas, de criar um mundo mais humano, mais estável, mais justo” (PNUD, 1997).
Para tal precisamos de uma “cultura da doação”: “A economia tornar-se-á mais humana mediante um conjunto de reformas a todos os níveis, inteiramente orientadas para o melhor serviço ao verdadeiro bem comum, isto é, mediante uma visão ética fundamentada sobre o valor infinito de cada homem e de todos os homens; uma economia que se deixa inspirar pela necessidade de criar relações entre os povos, com base num constante intercâmbio de dons, numa verdadeira cultura da doação que deve capacitar todos os países para responder às necessidades dos menos afortunados” (Conselho Pontifício “Cor Unum”, A fome no mundo (1996), 40).

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