divórcio ou casamento eterno?...

2009-10-30

Teologia do Corpo

Terminei o meu último comentário com um “Felizmente hoje já se vai falando de uma “teologia do corpo”. Pelo menos incipiente (digo eu, que sou “leigo”).
E como leigo aqui deixo alguns aspectos, que gostaria de ver aprofundar:
1) para lá de recusar de modo absoluto todas as concepções dualistas, porque hipervalorizam a alma e a denigrem tudo o que vem do corpo (pressuposto mínimo indispensável);
2) reabilitar o corpo perante todas as formas de exploração ou degradação modernas:
- da sociedade de consumo com as suas necessidades artificiais tornadas obrigatórias;
- da transformação em máquina muscular pelo esforço laboral, desportivo ou estético;
- da exploração dos instintos sexuais, nomeadamente através da publicidade;
- das variadas formas de violência física ou psicológica;
3) reconhecer a sua função essencial para o desenvolvimento pessoal e relacional:
o corpo não é um mero apêndice ou cabide, mas o mediador insubsitituível para estabelecer e manter os contactos com as pessoas, com a cultura, com a realidade existente e com o mundo exterior; sem corpo "não existiríamos" para nada nem para ninguém;
4) admitir os seus limites, a sua vulnerabilidade, porque a finitude é uma característica estruturante do ser humano em todos os âmbitos;
5) equipará-lo em dignidade à alma, porque o que está em questão é sempre a pessoa na sua totalidade: corpo, sentimento, espírito, inteligência, vontade;
6) dessacralizar a sexualidade, porque foi criada por Deus:
“Criou Deus o ser humano (´adam) à sua imagem, à imagem de Deus o criou, macho (zakar) e fêmea (neqebah) os criou (Gn 1,27)”. Ora zakar significa "macho, membro viril" e neqebah, "que se rasga, que se penetra", derivado do verbo naqab, "penetrar". Estas duas palavras indicam claramente a diferença sexual dos dois "elementos" constitutivos da humanidade. Portanto, Deus não criou apenas a humanidade, criou-a, logo no acto criador originário, nos seus dois sexos, zakar e neqebah, ambos à sua imagem; é preciso retirar daqui as radicais consequências;
7) libertá-la do estigma da impureza: o NT liberta a sexualidade da necessidade de qualquer purificação cultual; a pureza cultual deixa de ser importante, pois, como ensina Jesus, a impureza não vem do contacto com as coisas mas está dentro de cada um de nós (Mt 15,11);
8) dignificar o prazer:
- porque nos foi dado por Deus: “Foi Deus que nos fez atractivos, bonitos, acolhedores, capazes de jogar, e é Ele que nos convida a viver com intensidade cada minuto da nossa vida e que nos dotou deste corpo para comunicarmos com os outros, para amar até ao extremo, para gozar com os cinco sentidos. Porque é assim que deve ser vivida a sexualidade: gozando o sabor, o cheiro, o calor, o rumor e a beleza do corpo do outro, que goza em uníssono com o nosso e de nós recebe a ternura, a delicadeza, a beleza e tantas qualidades que só brotam da intimidade do amor” (M.P. Ayerra); leia-se esse encantador livro bíblico “Cântico dos Cânticos”;
- porque a alegria, na plenitude do amor, na ternura da compreensão recíproca, na contemplação da vida que se renova, é instrumento de participação comum no gozo pascal de Cristo: a capacidade de viver com alegria o próprio corpo e a vontade não distorcida de o pôr em relação com o corpo e a vida do outro produzem o prazer que atravessa o corpo e impregna a vida inteira. “Quando se fala de ‘densidade lúdica’ da sexualidade é preciso superar o equívoco da trivialização e do engano. Não se trata de ‘jogar-se ao outro’ mas de ‘jogar com o outro’, na festa da vida que se abre e que se dá. É preciso também superar o preconceito de que este jogo é fácil e que pode praticar-se sem grande responsabilidade” (A. Autiero).

2 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

querido Ze,

apesar de nao deixar aqui muitos comentarios leio-te com regularidade! Gostei muito da reflexao de hoje. faz-nos tanta falta estar em equilibrio com o corpo!

beijo doce

candida

30/10/09 13:17

 
Blogger Zé Dias disse...

Querida Cândida
Como foi bom "ouvir-te"!
Espero que as "duas (duas, mas diferentes) Cândidas" e o Muarice estejam em feliz harmonia e paz de espírito.
Um beijão do

30/10/09 19:57

 

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