divórcio ou casamento eterno?...

2009-11-29

Advento

O Avento é um dos tempos fortes do ano litúrgico. Muitos católicos e bastantes comunidades preparam os seus esquemas para uma caminhada espiritual que termina no Natal. Também a sociedade de consumo preapara a sua caminhada material, explorando o Natal, apelando aos sentimentos de amizade mas não de solidariedade, a dar inutilidades aos amigos mas não a partilhar alimentos, tempo, carinho com os mais pobres: é a sua campanha não para nos fazer irmãos ou cidadãos, mas consumistas. Mas é assim a sociedade que nós criámos.
No início deste Advento, a minha reflexão centra-se em três palavras chave.

Avento, tempo de espera, tempo de esperança, portanto. Tempo de esperança já cumprida: a vinda, em carne e osso, do nosso Deus, há tantos séculos esperada e anunciada. Tempo, portanto, de alegria, porque “Aquele que havia de vir” já veio. E veio tão discreto e tão humilde que ninguém o reconheceu: “A luz brilhou nas trevas, mas as trevas não a reconheceram. Veio para o qu era seu e os seus não o receberam. Mas a quantos o receberam, aos que nele crêem deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus” (Jo 1, 5.11-12).
Mas é também uma esperança a realizar. Por isso, o “convertei-vos e acreditai no Evangelho” não é um convite mas um projecto de vida, um projecto de quem tem esperança, porque o Reino de Deus está a chegar: “Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo (Mc 1,15). Completou-se o tempo, porque o Reino de Deus já começou a chegar, mas vai chegando ao ritmo que nós ajudarmos a impor na história: o Reino de Deus é um dom, mas é também uma conquista.

Advento, tempo de amor. Foi por amor que Jesus veio e com ele o Reino de Deus começou a tomar a sua forma definitiva: “Deus amou de tal modo o mundo que lhe enviou o seu Filho Unigénito para que todo o que nele crê não se perca e tenha a vida terna” (Jo 3, 16). A sua vinda foi um constante exercício de amor, amor ao Pai, amor aos homens e mulheres do seu tempo: a ele sacrificou toda a sua vida até ao extremo. Não sabemos as dúvidas que teve, as tentações que venceu, sobretudo a última, tão bem retratada por Kazantzaki num livro comovente, arrebatador (A Última Tentação) e que nos mostra o quanto Deus foi humano, mesmo que os teólogos, os intelectuais de Deus, não concordem com essa sua interpretação do aniquilamento (kenosis) de um Deus que se faz homem para o homem se torne deus.
É tempo de amor porque nesse Reino que esperamos só se pode entrar pelo amor, sobretudo aos mais esquecidos e carenciados deste mundo (Mt 25, 31-46). Esta é uma realidade tão indesmentível, que os Padres da Igreja a plasmaram numa frase lapidar: “os pobres são os porteiros do céu”. Com tanto pobre na nossa sociedade de hoje, só não entra no Reino de Deus quem não quiser… amar a sério.

Advento, tempo de perdão. Não pode haver amor sem perdão. Só o perdão é capaz de quebrar a espiral das violências: essa espiral só pode terminar se alguém for capaz de a cortar perdoando. Por alguma razão, antes de terminar a sua passagem pela terra, do ponto mais alto da sua vida, Jesus teve aquele grito libertador: “Pai, perdoa-lhes porque não sabe o que fazem”. Quantas palavras e parábolas de perdão Jesus pronunciou ao longo da sua vida!
Termino citando João Paulo II: “A proposta do perdão não é de imediata compreensão nem de fácil aceitação; é uma mensagem de certo modo paradoxal. De facto, o perdão implica sempre uma aparente perda a curto prazo, mas garante, a longo prazo, um lucro real. Com a violência é exactamente o contrário: opta-se por um lucro de vencimento imediato, mas prepara para depois uma perda real e permanente. À primeira vista, o perdão poderia parecer uma fraqueza, mas não: tanto para ser concedido como para ser aceite, supõe uma força espiritual e uma coragem moral a toda a prova. Em vez de humilhar a pessoa, o perdão leva-a a um humanismo mais pleno e mais rico, capaz de reflectir em si um raio do esplendor do Criador” (Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2002, 10).

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