divórcio ou casamento eterno?...

2009-11-23

Cinv (52) Direito à água e ao alimento (nº 27)

Os direitos à água e ao alimento têm, como é evidente, um papel imprescindível na luta contra a fome, mas não só. Eles revestem também “um papel importante para a consecução de outros direitos, a começar pelo direito primário à vida. Por isso, é necessário a maturação de uma consciência solidária que considere a alimentação e o acesso à água como direitos universais de todos os seres humanos, sem distinções nem discriminações”. Já, no documento da Comissão Pontifícia Justiça e Paz, Água, elemento essencial para a vida (Março.2006), se podia ler: “A água é muito mais do que uma simples necessidade humana básica. É um elemento essencial e insubstituível para assegurar a continuação da vida. A água está intrinsecamente unida aos direitos fundamentais do homem, como o direito à vida, à alimentação e à saúde. O acesso à água potável é um direito humano fundamental”.
Sobretudo no que se refere à água, a opinião pública ainda não tomou a mais pequena consciência da sua importância. Para quem vive na nossa sociedade de abundância, trata-se de um produto tão comezinho, tão banal, que nos damos ao luxo de regar os jardins com ela, de alimentar campos de golfe, de lavar as mãos com a torneira aberta e tantos outros hábitos depredadores. Isto já para não falarmos dos gastos, necessários mas feitos de um modo irracional e depredador, no âmbito da agricultura sobretudo tradicional.

Já quase não bebemos água da torneira. Quando vamos a um café, pedimos logo uma garrafa de água. Isto é um caso sintomático. O que gastamos com essa água, que custa tanto ou mais que o gasóleo, daria para acabar com a pobreza extrema em todo o mundo. Basta referir alguns números, que até andam aí pela Net.
Por exemplo, no ano de 2004, os americanos consumiram 26 mil milhões de litros de água engarrafada. Para fabricar os 28 mil milhões de garrafas de plástico foram necessários 17 milhões de barris de petróleo, o suficiente para abastecer de combustível 100 mil carros por ano. A produção destas garrafas causou a emissão de 2,5 milhões de toneladas de CO2 para a atmosfera e os plásticos abandonadas não só poluíram o solo como contaminaram os lençóis freáticos (águas subterrâneas que alimentam as nossas fontes e rios). Para lá de todos os efeitos poluentes, os americanos gastaram 100 mil milhões de dólares nesta água engarrafada. Ora, segundo a ONU, bastariam 80 mil milhões de dólares para dotar de cuidados básicos todos os pobres da terra.
Mas há também problemas políticos sérios e há quem diga que as próximas “grandes” guerras serão por causa da água, particularmente no Médio Oriente. Nós próprios, os portugueses, estamos também dependentes da “boa vontade” dos espanhóis cumprirem os tratados sobre a água, por também não temos que chegue, se não forem os rios internacionais. Além disso, a dessalinização da água do mar ainda implica preços proibitivos.
Se passarmos para os países subdesenvolvidos, então a penúria de água é aflitiva: não só exige excessivo tempo para se deslocar a fontes ou poços, mas muita dela é imprópria para consumo: são muitos os milhares de mortes causadas pela própria água. Muitas doenças, algumas mortais outras incapacitantes estão-lhe associadas.
Bento XVI chama a atenção para o próprio interesse dos países ricos: “Sustentando, através de planos de financiamento inspirados pela solidariedade, os países economicamente pobres, para que provejam eles mesmos à satisfação das solicitações de bens de consumo e de desenvolvimento dos próprios cidadãos, é possível não apenas gerar verdadeiro crescimento económico mas também concorrer para sustentar as capacidades produtivas dos países ricos que correm o risco de ficar comprometidas pela crise”.

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