divórcio ou casamento eterno?...

2009-11-20

Cinv (50) Imoralidade da fome (nº 27)

Há muitas regiões onde continua a aumentar a “insegurança extrema de vida, que deriva da carência de alimentação”. E não se trata de uma mera consequência da crise, embora seja agudizada por ela.
Bento XVI começa por afirmar que se trata de um irrenunciável “imperativo ético”, especialmente para toda a Igreja, já que “é resposta aos ensinamentos de solidariedade e partilha do seu Fundador, o Senhor Jesus”; mas também para toda a humanidade, porque:
- elimina pessoas, a grande riqueza de dispomos: “a fome ceifa ainda inúmeras vítimas entre os muitos Lázaros, a quem não é permitido, como esperara Paulo VI, sentar-se à mesa do rico avarento”;
- torna mais difícil a preservação da paz e a subsistência da Terra.
O imperativo ético torna-se mais “imperativo” porque hoje, a fome não depende da escassez de recursos naturais. Efectivamente, nunca como hoje a humanidade dispôs de tanto alimento, ao ponto de até o destruir para poder manter os seus elevados preços. E não vale a pena argumentar com a recente bolha cerealífera, porque todos sabemos como a especulação e os interesses de meia dúzia foram os responsáveis por mais esta vergonhosa “lesa humanidade”. Os maiores obstáculos são de “natureza institucional; isto é, falta um sistema de instituições económicas que seja capaz de garantir um acesso regular e adequado, do ponto de vista nutricional, à alimentação e à água e também de enfrentar as carências relacionadas com as necessidades primárias e com a emergência de reais e verdadeiras crises alimentares provocadas por causas naturais ou pela irresponsabilidade política nacional e internacional”.

Feita esta introdução, o Papa aponta três linhas de intervenção:
1ª. Eliminar as causas estruturais, “promovendo o desenvolvimento agrícola dos países mais pobres por meio de investimentos em infra-estruturas rurais, sistemas de irrigação, transportes, organização dos mercados, formação e difusão de técnicas agrícolas apropriadas, isto é, capazes de utilizar o melhor possível os recursos humanos, naturais e sócio-económicos mais acessíveis a nível local, para garantir a sua manutenção a longo prazo”;

2ª Envolver as comunidades locais nas soluções e decisões quanto ao uso da terra: “poderia revelar-se útil considerar as novas fronteiras abertas por um correcto emprego das técnicas de produção agrícola, tanto as tradicionais como as inovadoras, desde que as mesmas tenham sido, depois de adequada verificação, reconhecidas oportunas, respeitadoras do ambiente e tendo em conta as populações mais desfavorecidas”. Portanto, não se trata de meras transposições de experiências positivas nos países desenvolvidos para os países carenciados. Estas transposições lineares e directas esquecem muitas vezes a carga cultural dos locais que não interiorizam o bem que dali lhes pode vir, a falta de pessoas capazes de dar o adequado uso a novas tecnologias e métodos, a falta de profissionais e de peças suplentes que façam uma correcta e atempada manutenção; a potencial inadaptibilidade de sementes ou plantas a esses terrenos, etc.

3ª Implementar “uma equitativa reforma agrária nos países em vias de desenvolvimento”. Esta temática mereceu da Comissão Pontifícia Justiça e Paz um célebre documento Para uma melhor distribuição da terra: o desafio da Reforma Agrária (23.Nov.1997), que deixou algumas pistas que não mereceram a devida atenção.
Apesar de ter uma dúzia de anos, ainda vale a pena recordá-lo.

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