Cinv (40) BRICs
O Papa não utiliza esta expressão já consagrada quando se fala das chamadas economias (países!?) emergentes: “Temos hoje muitas áreas do globo que — de forma por vezes problemática e não homogénea — evoluíram, entrando na categoria das grandes potências destinadas a jogar um papel importante no futuro” (23). Certamente porque estes quatro países (Brasil, Rússia, Índia e China) não são os únicos novos pólos do progresso. Já hoje temos outros países como Singapura ou Coreia no Sudeste asiático. Para lá de que as previsões apontam para a “emergência”, nos próximos anos, de países como o México, a Indonésia e a África do Sul. Poderia ainda acrescentar a chamada “deslocação do Atlântico para o Pacífico”.
De qualquer modo, o Papa volta a lembrar que não basta o desenvolvimento económico: “Contudo há que sublinhar que não é suficiente progredir do ponto de vista económico e tecnológico; é preciso que o desenvolvimento seja, antes de mais nada, verdadeiro e integral. A saída do atraso económico — um dado em si mesmo positivo — não resolve a complexa problemática da promoção do homem nem nos países protagonistas de tais avanços, nem nos países economicamente já desenvolvidos, nem nos países ainda pobres que, além das antigas formas de exploração, podem vir a sofrer também as consequências negativas derivadas de um crescimento marcado por desvios e desequilíbrios”.
Curiosamente o Courrier Internacional do mês passado traz uma entrevista com o indiano T. Tejpal, criador do site e depois do jornal Tehelka (“sensação”), nos quais investiga e denuncia casos de tráfico de influências e de corrupção, que podem ir até ao assassinato, que confirmam estas palavras da encíclica. Todos sabemos que a Índia é um dos grandes “produtores” e criadores nas novas tecnologias, que exporta cérebros e tecnologias para todo o mundo especialmente os Estados Unidos, concretamente na informática: o que seria o Silicon Valley sem o contributo dos informáticos indianos? Sabemos que a Índia consegue lançar satélites para o espaço, mas metade da sua população não dispõe de electricidade; tem mais de 30% dos engenheiros de informática a nível mundial, mas os seus pobres atingem muitas centenas de milhões (80,4% dos indianos vive com menos de 2 dólares por dia); é uma das potências nucleares mas tem a taxa de analfabetismo (35% para os maiores de 15 anos) mais elevada entre os BRIC. Os dados foram publicados pela ONU (PNUD 2008-2009) e no Google.
Voltando a T. Tejpal, diz ele: “Mas como é possível pretender tornar-se uma superpotência, quando o país não alimenta as suas próprias crianças nem as envia todas à escola? Na minha cidade de Deli, não se pode parar num semáforo sem que um cacho de crianças seminuas corram a mendigar uma rupia. Teremos de nos habituar a isto? Na Índia, a corrupção é um sintoma, não uma causa. É sobretudo reveladora da desigualdade. Somos o país do mundo com os mais gritantes extremos. A Índia tem uma população rica de 200 milhões de pessoas, ente as quais 10 milhões muito ricas. Ao lado disso, temos 800 milhões de pobres, dos quais 350 milhões são miseráveis que sobrevivem com menos de 30 cêntimos de euro por dia! É pior que na África subsariana. Enquanto a nossa sociedade não reduzir estes abismos, seremos assombrados pela injustiça e minados pela corrupção. (…) A Índia não evolui com suficiente rapidez. Há 200 milhões de intocáveis, há um milénio”
Para Malouff, foi a libertação da “coleira do dirigismo”, que permitiu à China (e depois à Índia) atingirem os elevados níveis de desenvolvimento. Bastaram três decisões muito simples tomas por Deng Xiao Ping: 1) ordenar, logo que tomou posse, a distribuição a certos camponeses das terras colectivizadas, autorizando-os a vender parte da sua colheita; 2) permitir que os camponeses escolhessem o que queriam plantar; 3) levantar a interdição sobre as pequenas empresas familiares do campo.
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