CinV (44) Desemprego (nº 25)
Antes de desenvolver este tema, Bento XVI fala dos sindicatos e das suas dificuldades actuais: “O conjunto das mudanças sociais e económicas faz com que as organizações sindicais sintam maiores dificuldades no desempenho do seu dever de representar os interesses dos trabalhadores, inclusive pelo facto de os governos, por razões de utilidade económica, muitas vezes limitarem as liberdades sindicais ou a capacidade negociadora dos próprios sindicatos” num tempo em que, “hoje ainda mais do que ontem” é urgente a criação de “novas sinergias a nível internacional, sem descurar o nível local”. Mas como este tema vai ser desenvolvido mais à frente, reservo uma reflexão mais aprofundada sobre os sindicatos, quando chegar a esse nº 64.
O desemprego é enquadrado num parágrafo que começa pela “mobilidade laboral, (que) associada à generalidade desregulamentação, constitui um fenómeno importante”. Pode ter aspectos positivos (estímulo à produção de nova riqueza e intercâmbio entre as várias culturas), mas “quando se torna endémica a incerteza sobre as condições de trabalho” as consequências podem ser muito negativas:
- instabilidade psicológica;
- dificuldade para “construir percursos coerentes na própria vida, incluindo o percurso rumo ao matrimónio”;
- situações de degradação humana;
- desperdício de força social.
Por isso, hoje, o desemprego origina situações novas que passam para lá da esfera do económico e são agudizads pela actual crise: “A exclusão do trabalho por muito tempo ou então uma prolongada dependência da assistência pública ou privada corroem a liberdade e a criatividade da pessoa e as suas relações familiares e sociais, causando enormes sofrimentos a nível psicológico e espiritual”. É indispensável destacar esta dimensão psicológica (e espiritual) porque, muitas vezes, esquecemos os sofrimento psicológico de quem se afoga num sentimento de inutilidade, de quem não é capaz de encarar os filhos ou a família a quem não pode prestar a ajuda necessária, de quem sente que já não consta ou corre o risco de não contar sequer das estatísticas sociais. Será oportuna aqui, ao menos, uma referência ao suicídio de trabalhadores que foram despedidos, muitas (quantas?) vezes descartados como se não passassem de farrapos já não necessários, de meros objectos tornados inúteis. João Paulo II tem palavras muito fortes: “A solidariedade ajuda-nos a ver o «outro» — pessoa, povo ou nação — não como um instrumento qualquer, de que se explora, a baixo preço, a capacidade de trabalho e a resistência física, para o abandonar quando já não serve; mas sim, como um nosso «semelhante», um «auxílio» (cf. Gn 2,18.20), que se há-de tornar participante, como nós, no banquete da vida, para o qual todos os homens são igualmente convidados por Deus (…) Assim, a exploração, a opressão e o aniquilamento dos outros são excluídos” (SRS 39). Ou ainda: "A obrigação de ganhar o pão com o suor do próprio rosto supõe, ao mesmo tempo, um direito. Uma sociedade, onde este direito seja sistematicamente negado, onde as medidas de política económica não consintam aos trabalhadores alcançarem níveis satisfatórios de ocupação, não pode conseguir nem a sua legitimação ética nem a paz social" (CA 43)
Mais à frente, Bento XVI destaca a ligação muito íntima entre desemprego e pobreza: “Ao considerar os problemas do desenvolvimento, não se pode deixar de pôr em evidência o nexo directo entre pobreza e desemprego. Em muitos casos, os pobres são o resultado da violação da dignidade do trabalho humano, seja porque as suas possibilidades são limitadas (desemprego, subemprego), seja porque são desvalorizados «os direitos que dele brotam, especialmente o direito ao justo salário, à segurança da pessoa do trabalhador e da sua família» (LE 8)” (63).
É neste contexto que, Bento XVI tem uma frase que já transcrevi mas volto a repetir: “Queria recordar a todos, sobretudo aos governantes que estão empenhados a dar um perfil renovado aos sistemas económicos e sociais do mundo, que o primeiro capital a preservar e valorizar é o homem, a pessoa, na sua integridade: «com efeito, o homem é o protagonista, o centro e o fim de toda a vida económico-social» (GS 63)”.
A pessoa é o primeiro capital a preservar e a valorizar. Está-se mesmo a ver, não está?
2 Comentários:
Minhas crenças são: Que um casamento ainda pode ser uma união eterna, mas na hora da separação tudo fica complicado, separar o que é meu e o que é teu é difícil porque penso... Como ficará os momentos de Amor e sentimentos que não podemos separar, os filhos nunca serão ex-filhos e ex-sentimentos isso não existe. Que bom seria se todas as uniões fossem compartilhadas e todos os casamentos ou contratos fossem harmónicos. Parabéns amei seu blog abraços Heudes.
10/11/09 16:27
Heudes
Falou de um assunto que tem muitas implicações que não vou abordar aqui nem sou a pessoa indicada.
Mas quero fazer só´duas longas notas.
1) O casamento está hoje marcado pro muitas dificuldades (vievmos numa sociedade centrífuga!).
- a absolutização do indivíduo e consequente deavalorização das instituições;
- a trivilaização do amor e do sexo;
- as vantagens do casamento podem obter-se sem se casar "oficialmente";
- um relativismo ético que tudo permite e se rege pelo "eu quero" e "eu gosto";
- a partida para o casamento com a ideia de que "dá enquanto der";
- hoje quase que desapreceram da vida "coisasd" como o sacrifício, a tolerância, a aceitação do outro como diferente do que eu sonhava, o respeito pela autonomia respeitadora mínima do outro (aqui falo de casados)
- ...
2) Não quero, não posso, nem c onsigo julgar ninguém, mas posso falar de mim.
Eu, que estou casado há mais de 38 anos, continuo a achar, e não o faço teoricamente nem apenas por razões religiosas (considero-me católico e procuro sê-lo com alguma (in)coerência, mas sem deixar de "usar a cabeça"), que vale a pena viver um projecto a dois, que é difícil mantê-lo, mas que é possível desde que os dois queiram fazer esforços e lutem por isso, que vale a pena partilhar a dois os momentos de alegria e de tristeza, o prazer-dor de criar os filhos, o sentir que não estou só em horas difíceis, a segurança de poder partilhar as angústias das decisões difíceis ou dolorosas.
Ainda hoje, e particularmente hoje, amo profundamenta a Fatucha, a mulher que tem passado comigo todos estes anos, com altos e baixos, com discussões e amuos, com alegrias e tristezas, mas sempre, os dois, com paz interior porque cada um sabe que o outro (que é a sua metade) está sempre (pelo menos esteve até agora!) ao seu lado para o bem e para o mal, como aliás prometemos solenemente, há 38 anos,no altar em frente da comunidade eclesial a que pertencemos.
11/11/09 10:44
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